Se não é tudo, pelo menos boa parte da arte brasileira passa pelo nordeste(inclusive do ponto de vista político). É o que nos mostra a terceira edição da Bienal da Bahia, um evento importantíssimo que traz a magnitude estética-popular e também a superação de lacunas históricas. Em cartaz até o dia 7 de setembro, a Bienal da Bahia que leva o título É Tudo Nordeste?, possibilita um importante transito com as especificidades culturais locais, elegendo o nordeste enquanto dimensão geográfica por onde descortina-se uma impressionante riqueza artística. Além disso, é interessante o esforço para se refletir sobre a História das duas primeiras bienais da Bahia, ocorridas em 1966 e em 1968(esta exposição histórica encontra-se na casa dos beneditinos) .
Abordar em especial a edição de 1968 da bienal baiana, é uma atitude que nos coloca mais uma vez frente aos prejuízos culturais e políticos que a ditadura militar trouxe para o Brasil. Fechada apenas dois dias após a sua abertura, a Bienal de 68 foi vítima da repressão política que confiscou obras de arte devido as suas claras implicações contestadoras(o evento seria reaberto um mês depois, sem as " obras subversivas "; cabe também mencionar nesta mesma ocasião a solidariedade de alguns artistas da época com os artistas censurados, levando aqueles a retirarem suas obras da exposição). Pois bem, de que modo esta questão vale á pena ser colocada em 2014? Num momento em que os crimes da ditadura brotam diretamente do passado, é obrigação dos artistas e pesquisadores conscientizarem o público sobre as brutalidades da censura. Mais do que denúncia, é este tipo de postura que possibilita uma avaliação sobre os rumos da arte contemporânea brasileira dos últimos 46 anos: da intensa politização e espírito provocador/iconoclasta de 68 aos dias atuais, podemos perceber que perdeu-se muito com a crescente despolitização, a qual acarretou no relativismo de obras ocas e carentes de implicações utópicas.
Antes que alguém se levante e afirme que estou mitificando 1968, aqui vai o recado: não é idealização, mas ponto de referência para seguir com uma nova arte que possa encher o saco da burguesia.É da Bahia que podem soprar alguns ventos para a arte contemporânea brasileira reatar seus vínculos históricos rompidos pela ditadura e seguir adiante com o seu papel político contestador.
Marta Dinamite
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