Conservadores de plantão tentam desqualificar o pensamento marxista, sendo comum encontramos aqueles que o concebem enquanto filosofia que contempla uma relação supostamente mecânica entre economia e cultura. No caso da arte, a queixa maior é a de que trata-se de um campo " sem autonomia ", já que a produção artística estaria subordinada ás relações concretas de produção. Esta análise precipitada e que não consegue disfarçar seus vínculos com a ordem capitalista, aumenta a tagarelice reacionária num momento em que o Estado brasileiro persegue e pune militantes(não apenas comunistas mas também anarquistas). Para não nos intimidarmos em nossas convicções políticas creio que é preciso sustentar, inclusive dentro da reflexão estética, uma grande batalha intelectual, cujo objetivo é manter vivo e influente um projeto que visa a transformação da realidade estabelecida. Este mesmo projeto depende da arte: a experiência sensível não se separa do processo de construção da consciência política da classe trabalhadora.
Para a arte ser compreendida em sua natureza subversiva, de crítica ao capitalismo e enquanto atividade que resgata a humanidade perdida pelo trabalho alienado, precisamos entende-la como trabalho sensível que atua diretamente sobre a matéria. Isto nada tem a ver com uma relação mecânica, em que uma obra de arte ou um movimento artístico só podem ser encarados enquanto produtos passivos das determinações econômicas e políticas de um período histórico em particular. Evidentemente que a arte em qualquer época, não pode ser pensada fora dos níveis de desenvolvimento das forças produtivas e do seu condicionamento ideológico dentro da divisão social do trabalho(o que por sua vez também acarreta ao longo da História em diferentes maneiras de se definir o que é arte) . Sem desconsiderar estas premissas, situemos as capacidades de intervenção da arte na sociedade atual.
Mediante a sofisticação de uma cultura da alienação, graças ás novas ferramentas digitais, seria o artista aquele " bicho da seda " diante da indústria, tal como referiu-se Mário Pedrosa? Na desproporcional correlação de forças entre artistas militantes e a grande mídia, aqueles que se ocupam da arte não podem cair em situações fragmentárias, sem conexão com os problemas gerados pelo modo de produção capitalista. Em seu nível de autonomia, em sua especificidade enquanto esfera do trabalho, a arte não pode se desintegrar em experiências relativistas, que somam-se á poluição visual e sonora da cultura de massa. Diferentemente daqueles que ficam em discussões bizantinas sobre arte e antiarte(ou até mesmo sobre o fim da arte, rs), o artista revolucionário entende a arte enquanto trabalho: sendo assim ele se despe de conceitos como genialidade, vaidade e sucesso, e entrega-se á pesquisas expressivas que dialogam com projetos políticos contrários aos interesses do capital. Preservando sua independência enquanto processo criativo que não admite interferência externa, a criação artística necessária é entendida enquanto produção, matéria viva que participa da construção de uma realidade política em potencial(o socialismo), que a mídia burguesa combate sem descanso.
A energia utópica da arte pulsa no anonimato mas não se contenta com a margem: ela almeja participar de uma grande luta política pela emancipação do homem. A arte anuncia o que realmente deve ser o trabalho perante os novos meios de produção: uma atividade criadora, sensual, educativa e sem compromissos com os interesses capitalistas. Já passou da hora das organizações de esquerda levarem mais a sério o debate artístico e no que ele contribui para a construção de uma cultura socialista.
Afonso Machado
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