Enquanto pensador da cultura brasileira, Glauber Rocha permanece enquanto intérprete revolucionário. É bem verdade que vários culturalistas tentam apropriar-se do seu legado cinematográfico, de sua herança estética, tentando inutilmente transformar Glauber em um artista pós-moderno. Esta forçação de barra possui claros propósitos ideológicos, pois ela visa desvincular o cinema/pensamento de Glauber Rocha do marxismo. Ainda que Glauber não seja um seguidor " convencional " do materialismo dialético, suas pesquisas estéticas estão totalmente pautadas pela luta de classes e pelo ataque ao imperialismo. Talvez ao longo da sua trajetória intelectual, Glauber estivesse mais interessado em Brecht, no cinema soviético, na literatura brasileira de esquerda dos anos trinta e no Surrealismo do que na leitura/aplicação sistemática das ideias de Marx e Engels. Porém, isto não diminui em nada a violência revolucionária da sua obra. A exemplo de Oswald de Andrade, Glauber não nega o marxismo mas o amplia na direção de novos componentes sócio-culturais do Brasil, que somam-se ao projeto comunista.
O que muitos culturalistas não levam em conta na obra de Glauber Rocha, é que ela entra em conflito com as limitadíssimas visões artísticas da esquerda das décadas de sessenta e setenta. Recusando o receituário do zhdanovismo e de outras estéticas pautadas por um realismo caretão, o cineasta baiano nunca deixou de estar no campo político da esquerda.Seus filmes, manifestos e livros revelam em sua diversidade um esteta militante que fez da guerrilha cultural uma tática de confronto. Seu gigantesco esforço artístico não poderá florescer se ele ficar entre críticos e intelectuais que o tomam como objeto de estudo mas o rechaçam em suas implicações estéticas-revolucionárias. Portanto marxistas que de fato desejam contribuir com uma arte capaz de participar da luta contra a classe dominante , devem inserir Glauber Rocha nos seus debates culturais.
Afonso Machado
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