Se é unânime dentro da esquerda, que a arte colabora vivamente para a consciência de classe, creio que devemos focar a nossa militância para que os trabalhadores possuam uma imagem capaz de restituir sua própria identidade perdida, roubada pela exploração capitalista. Mas, eis que surge a problemática pergunta: diante da fragmentação social do espaço do trabalho, como a arte poderia ajudar no processo de aquisição da consciência dos trabalhadores para que estes entendam-se como classe? Tem-se falado pouco de Gramsci neste periódico, o que acarreta em alguns prejuízos na reflexão estética.
O conceito de hegemonia proposto por Gramsci, nos possibilita entender a esfera da cultura enquanto campo de construção da identidade política de uma classe. Se a classe trabalhadora encontra-se hoje submetida á fragmentação dentro do capitalismo de serviços, que por sua vez prejudica na compreensão do conjunto da realidade social, o artista/intelectual orgânico pode contribuir na reversão deste quadro alienante. Nos bairros populares, nas escolas e nos centros culturais, o artista organicamente ligado ás organizações políticas da classe trabalhadora, precisa realizar hoje um trabalho capaz de disputar o espaço ocupado pela grande mídia e por práticas religiosas conservadoras. A pequena peça teatral realizada na escola, a reunião de pessoas de um mesmo bairro em um clube para ouvir música e assistir vídeos produzidos pela comunidade e a divulgação de material literário das comunidades dentro da imprensa de partidos de esquerda, são hoje pequenas mas heroicas ações culturais que iniciam a construção da hegemonia.
Do ponto de vista da reflexão estética, acho que alguns dos meus companheiros de redação poderiam deixar um pouquinho de lado as elocubrações vanguardistas, para pensarem a dimensão popular necessária para que a arte ajude na hegemonia dos trabalhadores. Pesquisar formas populares de comunicação e suas possíveis afinidades com o projeto socialista, é uma tarefa do artista/intelectual orgânico, tal como o citado filósofo marxista italiano nos mostra.
Lúcia Gravas
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