No Brasil de hoje, a luta de classes exprime-se economicamente, geograficamente, politicamente e... culturalmente. Esta última dimensão fornece elementos simbólicos que traduzem, no cotidiano, as posições políticas existentes na sociedade brasileira. Nota-se em parte da região sudeste um universo estético conservador, um gosto pequeno burguês, que rejeita aspectos populares presentes nas mais diferentes realidades regionais. Uma ditadura plástica sustentada pelo capital é estabelecida a partir do cinema, de seriados norte americanos e de toda publicidade que acabam por expressar(e reforçar) os valores individualistas e narcisistas de uma classe média alta que tem aversão/medo do proletariado.
Produtos eletrônicos, automóveis, perfume caro e uma série de comportamentos perversos, estabelecem uma espécie de ala vip ambulante. Do lado de fora está a maioria, ou seja trabalhadores que cultivam suas tradições populares(e também/infelizmente consomem ao mesmo tempo produtos alienantes ligados aos meios de comunicação de massa). Esteticamente falando, a verdade é que a pequena burguesia brasileira não suporta as manifestações artísticas populares e muito menos a arte que denuncia e trata dos problemas sociais. Moralista antes de considerar a realidade material aonde a cultura popular se faz, a burguesia brasileira(e seus referidos lacaios da classe média alta) desejam sepultar o espaço público e marginalizar a produção artística proletária.
Seria um equívoco supor que as manifestações artísticas populares, representadas por exemplo em ritmos musicais regionais e na arte das periferias das grandes cidades(literatura periférica, hip hop, etc), sejam necessariamente revolucionárias. Mas já que elas apresentam um poder de antítese, se faz necessário que os movimentos sociais e as organizações de esquerda, trabalhem pelo engajamento político dos artistas populares. É preciso zelar pela educação política e estética do proletariado(os artistas populares necessitam conhecer, ter contato com diferentes referências artísticas, tais como as pintura de Di Cavalcanti). Aliás os anseios políticos da classe trabalhadora estão longe de se resumirem apenas no poder de compra: mais do que consumidores, os trabalhadores devem reconhecer-se politicamente enquanto classe. A hegemonia dos trabalhadores depende do desenvolvimento estético e ideológico de uma arte que dispute o espaço com a cultura elitista.
José Ferroso
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