Quando alguém decide escrever um romance engajado, não basta que a visão do escritor esteja comprometida com a denúncia dos problemas sociais. A ideologia do escritor não é garantia de uma escrita de qualidade. O escritor precisa dominar certas técnicas narrativas que permitem a reflexão sobre a realidade brasileira. Realismo não é desculpa para falar sobre a " verdade " mas uma opção estética em que a verdade dos fatos revela-se pela trama do texto.
A composição de um romance que se propõe a falar dos problemas da realidade, não deve fazer com que as passagens e a vida dos personagens sejam artificialmente conduzidas pelas opiniões políticas do autor. Esta se manifesta a partir das contradições interiores do personagem, dos conflitos que surgem não enquanto ilustração sociológica mas enquanto construção literária que contribui dentre outras coisas com a sociologia.
A prosa é uma costura que trabalha através do fio da dialética e não de um pretexto que expõe sem elaboração estética a opinião política de quem escreve. A visão do autor não é falada artificialmente pela boca de todos os personagens. Cada personagem, em sua verdade interna, compõe o todo: é aí que o pensamento do autor revela-se; o que acaba por transparecer é a necessidade política de transformação política. No plano do romance, a ideologia revolucionária se faz ouvir pelas estruturas literárias: estas devem ser problematizadas na hora de se fazer a denúncia social.
Lúcia Gravas
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