segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pagu: vida(de revolucionária)- obra(libertária)

Saudamos a reedição do fundamental " Pagu: Vida-Obra " , organizado por Augusto de Campos. Lançado na década de oitenta pela Brasiliense, o livro aparece agora pela Companhia das Letras em uma edição ampliada. A importância documental e a fecundidade teórica(e militante) em torno do trabalho da escritora Patrícia Galvão, são expostos num livro que nos ajuda a conjugar num mesmo plano libertário, a literatura e a revolução. Acreditamos que esta iniciativa editorial pode colaborar, de forma significativa, para que a figura de Pagu seja desvencilhada do sensacionalismo folclórico em torno do estereótipo da " musa antropofágica ". Afinal de contas, o itinerário de Patrícia Galvão não envolve um apêndice do modernismo, mas uma obra viva, conduzida pelo verbo pulsante, pela fusão original entre modernidade estética e militância anticapitalista. 
  A trajetória intelectual de Patrícia Galvão engloba, sob o ponto de vista histórico, lições práticas. Seria impensável imaginarmos a fase de radicalização do movimento antropofágico em 1929, sem a presença de Pagu escandalizando a classe dominante através da sua conduta rebelde, dos seus desenhos provocadores e de suas performances decididamente modernas. Tal posição vanguardista aplicou-se também na própria militância política de esquerda, como registram seus artigos e desenhos publicados no jornal O Homem do Povo, durante o início da década de trinta.  O mesmo pode ser dito em relação ao romance social do período, quando Parque Industrial(1933) revelou que a utilização das técnicas de vanguarda na composição de uma escrita que denuncia as condições de vida de operárias paulistanas,  não exclui o marxismo e o feminismo. 
 Do ponto de vista político, Pagu nos mostra que a militância partidária não rima com os crimes do stalinismo e todo seu lastro opressor. A escritora militante nos legou a convicção de que o comunismo requer liberdade. Mas será exatamente esta certeza que levaria Pagu a ser incompreendida pelos seus contemporâneos, sejam eles de esquerda(a canalha stalinista) ou de direita(os reacionários de sempre). Presa, torturada e marginalizada, Patrícia não abriu mão do projeto estético de vanguarda e da luta socialista: isto está registrado na segunda metade dos anos quarenta com o seu segundo romance A Famosa Revista(escrito junto com o seu companheiro, o jornalista Geraldo Ferraz); trata-se de uma crítica poética contra a máquina stalinista no Brasil. Outros exemplos que flagram o compromisso ético, estético e político de Pagu estão presentes em vários registros relacionados com a sua atuação junto ao movimento trotskista, na sua crítica aos componentes literários caretas da chamada Geração de 45 e na sua farta produção jornalística em diversos periódicos durante as décadas de quarenta e cinquenta.
  Esperamos sinceramente que a vida e a obra(seria possível separa-las?) de Pagu sejam estudas, pesquisadas e debatidas nas escolas, nas universidades e nos partidos políticos de esquerda.

                                                                              
                                                                             Afonso Machado  

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