" Coma ananás
empanturre-se de ganso
seu último dia chegou, burguês! "
Estes versos do poema Coma Ananás escrito por Maiakóvski em 1917, tecem um texto rápido e violento. É uma cacetada futurista que ainda hoje faz estrago na cultura; pois enquanto houver capitalismo, o verso exprime uma escolha de classe . O que um livro de poemas de Maiakóvski estaria fazendo nas mãos de um leitor de classe média alta? Difícil justificar: se não forem capazes de trair a sua classe de origem nem pela literatura, os leitores com olhos de almofada e sensibilidade mercantil nada podem encontrar na obra de um homem que fez do poema um gesto político revolucionário e da política um gesto poético revolucionário. Por outro lado, existe uma afinidade histórica sem paralelos entre o legado do poeta russo e o contexto cultural da juventude trabalhadora brasileira. Isto é visível no plano estético: rappers, grafiteiros, funkeiros, escritores proletários não buscam palavrório, imagens evasivas ou metáforas complexas; eles produzem imagens diretas, secas, ágeis, violentas... Se Maiakóvski profanou as letras tradicionais com a linguagem das ruas e com a objetividade da arte gráfica, então os artistas de rua devem encontrar nele um dinamite estético prontinho para acender.
O lugar de Maiakóvski é entre os trabalhadores de qualquer país do mundo contemporâneo. A produção artística da juventude trabalhadora brasileira encontra-se num momento propício para assimilar Maiakóvski e enriquecer sua própria arte. Com a cultura dominante caindo em redundância e roendo os ossos do seu corpo fabricado e decadente, a arte revolucionária precisa se impor nos bairros afastados dos grandes centros. Os poemas de Maiakóvski circulando nas ruas, nas escolas, nos partidos de esquerda, nos shows e nos centros culturais, são mão na roda.
Os Independentes
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