quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Godard e o 3 D:

Se o cinemão está reduzido ao esgotamento das fórmulas manipuladoras, convertido num vídeo game empobrecido, os rebeldes da sétima arte não se furtam em tomar posições estéticas e políticas sobre as novas tecnologias. O 3D enquanto maquiagem sofisticada vem pateticamente encobrindo o grande nada do cinema comercial: mesmo sendo uma das grandes aliadas do imperialismo norte americano, Hollywood já teve em sua História demonstrações mais felizes de criatividade. Afinal de contas, mesmo um canalha reacionário a serviço do capital precisa de estilo e competência para legitimar a ideologia dominante. Perante o empobrecimento do espetáculo audiovisual, o cinema de autor ainda é estratégico na crítica e na auto-crítica do processo de elaboração da linguagem cinematográfica. Este é o caso do francês Jean Luc Godard que tomou parte no projeto coletivo 3X3D , que contou também com o britânico Peter Greenway e o português Edgar Pera. O filme envolve uma análise histórica do uso das tecnologias no cinema. 3X3D rebate o cinemão ao refletir visualmente sobre a terceira dimensão no contexto que privilegia a reflexão e a leitura sensível das imagens.
  Godard é certamente o grande provocador com o filme Os Três Desastres. Ao combinar imagens advindas de diferentes contextos visuais, ele cumpre o papel do artista revolucionário ao ousar e desconfiar da associação entre os meios de produção e a ideologia dominante: Godard expõe que o digital pode tornar-se ditadura. Para o cineasta francês, mais interessado no ensaio audiovisual do que no dado espetacular do cinema,  a arte ainda é uma reflexão honesta que se dirige para além das aparências produzidas pela tecnologia digital. 



                                                                      Lenito

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