sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Brecht e as tarefas do teatro político para este ano:

Perante a martelação ufanista da Copa 2014 e a disputa eleitoreira, os artistas revolucionários estudam estratégias de comunicação para desintoxicar os trabalhadores brasileiros. O caso do teatro em particular é ainda mais delicado na medida em que o mundo digital consegue pela imagem e pelo som uma posição de ataque imensamente superior. Definitivamente é desproporcional a luta entre o teatro disposto a estabelecer o esclarecimento das forças sociais que regem a realidade e o poderoso arsenal capitalista que visa a manutenção da sociedade alienada. No entanto, é no instante do gesto cênico pensado como algo de fora das leis culturais, que se interrompe as ilusórias narrativas futebolísticas(mesmo que isto seja percebido por plateias reduzidas). A interrupção anti-ilusionista proposta por Brecht precisa ser pensada não apenas no plano da estrutura do espetáculo teatral, mas enquanto um congelamento na própria realidade histórica. Quando o ator toma consciência do seu poder político, ele revela em sua atuação feita de palavras e gestos coordenados, as contradições sociais; o uso das ideias de Brecht, autor que deve ser colocado cada vez mais na linha de frente na batalha cultural ao longo deste ano, oferece o distanciamento crítico perante bandeiras verde e amarelas, gols, chuteiras, santinhos, horário eleitoral e outras formas de ocultação das diferenças entre as classes sociais.  
  Mas em que contexto o trabalho cênico de formiguinha pode encontrar eco? Seria idealismo pensar que a ação teatral se dá no vazio, como algo que possa influenciar de modo imediato a consciência. É justamente o contexto político atual que permite cada vez mais a emergência de formais teatrais que possam, se não esclarecer, ao menos interrogar a população. Um ano de novos protestos deve fazer de 2014 um desdobramento da rebeldia política do ano passado; é exatamente aí que as possibilidades cênicas são solicitadas, ou seja, o descontentamento da população pode ser aumentado por um teatro que abre a cortina da realidade e exige assim uma tomada de posição perante um cenário feito de crise na Saúde e na Educação. Portanto, nada de textos metafísicos e apresentações evasivas, mas ações concretas nas ruas e nas casas de espetáculo. Tragam o velho Brecht para a luta.


                                                                     Lúcia Gravas

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