terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Por uma música jacobina:

Permitam compartilhar direto do fundo da minha cachola elétrica, uma pequena, mas significativa, lembrança das jornadas de junho de 2013; esta lembrança pode ser útil para situarmos a importância que a música popular(ou se quiserem " canto de guerra " ou ainda " palavras de ordem musicadas ") possui para os futuros protestos de 2014. Em meio a uma passeata do ano passado, após o bicho pegar mais de uma vez, vários companheiros que empunhavam bandeiras vermelhas ou negras declamavam pequenas rimas musicadas. O conteúdo expresso eram merecidos desaforos que denunciavam o alto investimento na Copa de 2014  enquanto grande parte da população não tem acesso a sáude, educação de qualidade, moradia, etc. Naquele mesmo dia ouvi comentários depreciativos de uma rapaziada " Cult " quanto ás palavras de ordem ritmadas, sugerindo que música e grito de protesto seriam coisas distintas. Para eles era pura forçação de barra, pois música seria um troço " sagrado ". Que atitude mais reacionária! A História nos mostra exatamente o contrário.
  Afim de ferir o gosto sofisticado de muitos esnobes, que posam de socialistas, gostaria de mencionar que a música popular no ocidente, pelo menos a moderna música urbana, nasceu de uma associação explosiva com o protesto e a Revolução social. Na França do século XVIII, novos gêneros musicais nasciam sob a mesma sede de arrebentar com a nobreza e os privilégios do clero. Toda agitação política parisiense exigia mudanças culturais; quando o povo toma as ruas para reivindicar os seus direitos se faz necessário violentar o gosto da classe dominante, profanando inclusive as fronteiras entre a música e a política. E foi exatamente isso que rolou com o jacobinismo, quando o governo popular não apenas degolava fisicamente(e não estou  fazendo aqui um elogio á guilhotina, rs) mas simbolicamente, retirando a velha cabeça cultural e criando uma nova. Durante o período que os historiadores burgueses adoram denominar de " fase do terror ", ou seja entre 1792 e 1794, a música possuía um grande sentido de criatividade coletiva. Se ouvirmos até hoje Ça Ira, La Carmagnole e o hino A Marselhesa, a batida cardíaca é executada sob a forma da luta de classes, como uma tempestade libertadora anunciada por meio dos sons. Essa noção marcial, de música marcial, que substituiu o barroquismo e ergueu a arte revolucionária, precisa ser relembrada em força e entusiasmo.Se a mencionada canção Ça Ira tinha sua letra modificada por letristas anônimos a partir de acréscimos que correspondiam ás novas situações e acontecimentos políticos no dia a dia da Revolução francesa, qual seria então o grilo em criar gritos musicais para os protestos no Brasil de hoje?  
 Se entre a queda da Bastilha e a Copa do mundo deste ano, existem absurdas diferenças de tempo, espaço e cultura, isto não diminui em nada a possibilidade do punk rock jacobino ou um rap politizado de San Quilottes, continuarem profanando sabiamente o gosto dominante.


                                                                               Tupinik   

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