O rolezinho é um fenômeno social e muito particularmente estético: a cultura da juventude das periferias do Brasil exprime(ainda que sem a consciência exata) a luta de classes ao subverter a lógica dos shoppings. Creio que Marta Dinamite tenha subestimado em seu artigo recente a dimensão cultural subversiva presente no rolezinho.Ela afirma que os jovens do rolezinho deveriam buscar referências históricas de vanguarda ,como a performance de Flávio de Carvalho, por exemplo. Seria ótimo se isto ocorresse , mas embasados no marxismo, creio que devemos partir da realidade cultural concreta: é daí que surge, mesmo em suas confusões ideológicas, a legítima e provocadora arte das periferias. É a estética desta arte expressa por exemplo em danças, cantos, gírias, bonés , bermudas e chinelos que acaba por ferir o gosto burguês e gerar um choque entre as classes dentro dos shoppings. Ainda que não sejam expressões de arte revolucionária, as manifestações artísticas das periferias, a exemplo do funk, estabelecem códigos de linguagem e comportamentos que agridem a percepção de uma classe média acostumada á idolatria da mercadoria luxuosa. Discordando da minha amiga Marta, creio que os rolezinhos já possuem em si a reivindicação social de pessoas que excluídas do consumo e produtoras da sua própria cultura, estão agitando o país. Aliás é essa juventude que possui as condições históricas para começar a desenvolver uma nova arte revolucionária: a estética desta nova arte já existe, e partindo de suas próprias estruturas de linguagem, é que ela poderá adquirir significado político revolucionário. O rolezinho é uma das expressões da contradição econômica e do choque estético no Brasil atual.
Geraldo Vermelhão
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