quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Flávio de Carvalho no Rolezinho:

Rolê implica em liberdade, exatamente como canta Gal Costa no refrão da música Dê um Rolê(1971). O controle social dos capitalistas caras pálidas, se vê diante de um possível curto circuito devido a uma garotada que libera suas energias e frustrações no fenômeno social do rolezinho. Como todo mundo sabe, essa onda toda começou com cantores de funk que de saco cheio das restrições impostas ao uso do espaço público, promoviam encontros e agitações com a rapaziada. Hoje o escarcéu sobre o tema está dentro dos shoppings, espaços de compra e " lazer " que em sua essência capitalista exprimem a vigilância sobre o corpo e consequentemente o comportamento normativo pelo consumismo. Com a economia capengando e vários garotos combinando os rolezinhos pelas redes sociais, abriu-se um cenário pra lá de tenso: de um lado os governantes temem pela impopularidade(ano de Eleição, cara...) com a possível repressão policial sobre os meninos, do outro, movimentos sociais denunciam o que foi classificado de discriminação e segregação social sobre os participantes do rolezinho. Tá, e por que eu iria me meter a falar de arte numa hora dessas? Porque uma das maneiras de lhe dar com este problema encontra-se na expressão artística, na performance para ser mais exata(se bem que odeio ser exata com as coisas...). Vestindo a saia do nosso amado vanguardista Flávio de Carvalho, podemos encontrar nas possibilidades pacíficas da performance  uma tática de ré-significação libertária do corpo, tanto no espaço público quanto privado.
  Fico pensando o que Flávio iria achar do grande bafafá em torno do rolezinho nos shoppings. Para quem em 1931 enfrentou uma multidão de religiosos enfurecidos numa performance que quase o levou ao linchamento, o rolezinho teria como saída a criatividade e não a violência. Certo, a criatividade libertária pode ser reprimida(como o próprio Flávio viveu na pele), mas ela também traz á tona debates, diálogos, reflexões e não vitrines ou ossos quebrados.  Para muitos jovens que sofrem todos os dias com a violência do Estado capitalista, a solução estética-política do rolê não pode estar em ostentar/desejar mercadorias luxuosas, mas em compreender, como vários jovens trabalhadores libertários já o fazem, que pelas suas potencialidades criativas, eles podem transformar os espaços culturais instituídos(sobretudo os espaços públicos, que andam detonados e que precisam ser ocupados pela juventude). Parte do legado modernista de Flávio de Carvalho, como suas Experiências por exemplo, proporciona o gesto livre perante o olho que controla. Se o cerne do problema do rolezinho gira em torno de uma abrupta alteração do espaço físico, o estranhamento causado pelo artista -transeunte  envolve um grande aproveitamento cultural ; é como se ele dissesse que podemos estar de diferentes maneiras em diferentes espaços, questionando tabus e possibilitando uma existência mais livre, que dispensa roupas ou tênis de marca. 


                                                                       Marta Dinamite  

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