sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Punk: atualidade estética e política

Tendências culturais aparecem e desaparecem  na era contemporânea...Este definitivamente não é o caso do movimento punk. Como já foi demonstrado inúmeras vezes neste blog, a estética dos protestos brasileiros do ano passado e deste ano, é em parte definida pela agressividade punk. Não me parece passadismo, mas uma duradoura resolução artística/política que não perdeu a sua força comunicativa. É impressionante como suas formas de expressão artística, que revitalizaram o anarquismo nos anos setenta, estão presentes na cultura brasileira atual. O fato é que a ética e a estética punk não envelheceram em nada: não existem rugas e cabelos brancos mas uma transmissão geracional de moicanos, jeans surrados, jaquetas pretas, camisetas e um rock rápido e sujo que dentro de inúmeros estilos e desdobramentos musicais, não deverá desaparecer tão cedo. É comum notar entre vários adolescentes engajados em movimentos sociais, o uso da linguagem punk. É uma garotada que ao encontrar um valor de transgressão no punk, desenvolve suas potencialidades intelectuais num itinerário que vai do The Clash até Bakunin(e dependendo, até Marx). 
 Bem, se vários garotos consideram válidas as formas do punk é porque elas ainda funcionam. Não importa se a indústria se apropriou mais de uma vez da estética punk, pois as implicações políticas libertárias do movimento ainda estão historicamente fixadas em alguns ramos da cultura da juventude proletária e da classe média rebelde. Isto inclusive, como é sabido, é um fato internacional pertencente á realidade cosmopolita das grandes cidades, tais como São Paulo. Porém, nem tudo é tão claro: historicamente o movimento punk é atravessado por ambiguidades políticas. Se por um lado na Inglaterra dos anos setenta, o " faça você mesmo " das bandas de punk rock e da imprensa punk eram expressões indissociáveis do movimento operário(incluindo alí também comunistas, sobretudo de orientação trotskista), por outro lado, mais de uma vez ocorreram por parte de punks demonstrações de intolerância social, com inclinações claramente fascistas. Sabemos que as motivações sociais que geraram o punk não tem nenhum tipo de relação com o fascismo: o punk inclusive opõem-se com radicalidade ao fascismo , como comprovam os recentes enfrentamentos entre punks e neonazistas no país. No entanto, vários foram os punks ou pessoas ligadas ao seu ambiente que tomaram atitudes e comportamentos fascistas.
 Talvez a grande limitação política de muitos punks sempre tenha sido sua confusão ideológica expressa numa atitude própria das gangues de rua, com enfrentamentos que em nada ameaçam a burguesia. Não estou aqui me referindo ao trabalho libertário/revolucionário de punks que possuem clareza em seus objetivos: estes sim possuem uma contribuição inestimável para a arte revolucionária e o pensamento político. Aponto apenas para a necessidade de superação de uma lógica tribal que adolesceu demais: o mesmo espírito adolescente que traz a energia revolucionária do punk( na música, por exemplo) não pode fazer com que o movimento deixe de funcionar aonde interessa, ou seja,  no plano da luta de classes. É nesta dimensão política fundamental que o indivíduo libertário(seja ele da corrente anarco-punk ou não) produz, diretamente, uma arte de enfrentamento aos valores burgueses.   
  Apesar da discriminação que o movimento punk sempre recebeu, suas ideias(inclusive no plano estético) ainda são combustível cultural. Certamente o punk ainda vai dar o que falar no Brasil dos nossos dias.



                                                                                  Tupinik        

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