Brecht nunca se perguntava se uma obra de arte é " bela ", mas sim para o que ela serve. O teatrólogo alemão estava certo, pois não tem o menor cabimento ater-se ao culto da beleza formal num mundo devastado pelas injustiças capitalistas. Eisenstein e Maiakóvski não tinham o menor receio de dizer claramente, por meio de suas obras e textos teóricos, que a arte deve propagar ideias políticas de esquerda. Ambos estão entre os grandes artistas soviéticos que traduziram a Revolução bolchevique. E hoje em dia? Pode-se dizer que reside nas cabeças, de boa parte da classe média artística, um altar: é o altar da arte, uma manifestaçaõ " espiritual ", intocável, independente da realidade material(rs), livre(para servir ao " mercado livre... ") e " acima das questões de classe ".
As artes em seu aspecto sensível comunica pela forma um conteúdo político, gostem ou não os artistas pequeno burgueses. O ópio metafísico já criou muitos vícios estéticos, inclusive na arte contemporânea ... Tudo indica que mesmo derrubadas as estruturas do classicismo, críticos e artistas ainda se concentram no culto formalista, numa adoração que não é religiosa mas mercadológica. Até mesmo a performance mais previsível ou a instalação que chove cacarecos , estão envoltas em sacros valores financeiros. Mas e a intenção " transgressora " de quem desafia o conceito tradicional de arte? Não existe nenhum tipo de valor estético revolucionário no discurso artístico que prega" a fusão entre arte e vida ", pois afinal de contas, quem prega isso não vive esta fusão(a não ser mentalmente, para não dizer ilusoriamente) e acaba subordinando a sua arte á estrutura de leilões. A lógica perversa do mercado de arte aceita de bom grado aqueles que acreditam na " estetização da vida ", pois suas práticas após um burburinho inicial tornam-se inofensivas. Este já não é o caso daqueles que sabem da utilidade política da arte. Contrariando as teorias canonizadoras das obras de arte, os revolucionários não estão preocupados com galerias, espaços oficiais e nem mesmo com bobagens como a antiarte, mas com a comunicação artística eficiente nos quadros da classe trabalhadora.
Se não tem o menor sentido ficar babando diante de uma tela ou de uma escultura(e até, rs rs, de uma instalação), a arte que exprime a opção pelo proletariado deve ser prática, útil, com uma finalidade ideológica clara e sem escapismos. Agitação e propaganda é o termo correto para aquilo que eu entendo por arte revolucionária. É a arte que se fazia na Rússia e na Alemanha em contextos de ebulição política. Seja em 1917 ou em 1918, ou antes ou depois destas datas, a Agitprop estava ligada ás vanguardas artísticas(me refiro aquelas que podemos tirar proveito e não os esteticistas e os irracionalistas que não servem para absolutamente nada) e é claro aos movimentos de arte proletária. As experiências destes contextos históricos servem hoje para uma coisa: dessacralizar o que já não existe mais, isto é, a arte contemplativa e portanto de finalidade formalista. O cartaz, o jornal, o cinema, o teatro de rua... Sim, são nestas expressões que ainda podemos estabelecer pesquisas estéticas e construir a consciência política socialista.
Nada de inspiração, delírios de classe média ou manifestações de gente " culta ". Arte produtivista, arte em série, arte para agitar as massas e fazer uma propaganda clara/didática pelo socialismo. Tenho dito.
José Ferroso
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