(...) O problema da ação social não é(faço questão de voltar a este ponto e de nele insistir) senão uma das formas de um problema mais geral, que o surrealismo tomou a si suscitar e que vem a ser o problema da expressão humana em todas as suas formas. Quem diz expressão diz linguagem, para começar. Ninguém haverá, pois, de se admirar com ver o surrealismo situar-se , antes de tudo, quase unicamente no plano da linguagem; nem tão pouco, de que nada volta de qualquer incursão, a ele retorne como que pelo prazer de ali sentir-se em terra conquistada(...) As horas de palavras literalmente desencadeadas para as quais Dadá e surrealismo fizeram questão de abrir as portas, por mais que nos desagradem, não são das quais se retiram a troco de nada. Pouco a pouco elas penetrarão nas cidadezinhas idiotas da literatura que ainda se ensina e, misturando, sem dificuldade, os altos e baixos distritos, calmamente procederão a uma bela derrocada de torrinhas. A pretexto de que, por obra nossa, é somente a poesia que, nos dias que correm, se acha seriamente abalada, a população não se preocupa demasiado e vai construindo, aqui e acolá, as barreiras sem importância. As pessoas pretendem não perceber que o mecanismo lógico da frase, por si mesmo, mostra-se cada vez mais incapaz de provocar no homem o abalo emocional que dá, realmente, algum valor a sua vida. Em compensação, os produtos desta atividade espontânea ou mais espontânea, direta ou mais direta, como aqueles, que cada vez mais numerosos, lhe oferece o surrealismo, em forma de livros, de quadros, de filmes, e que ele começou a contemplar com estupor, atualmente ele se rodeia deles e, mais ou menos timidamente, delega-lhes o cuidado de revolucionar o seu modo de sentir.
André Breton, 1930.
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