sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Vanguardas artísticas e a vontade de transformação política:

Curiosamente as três últimas décadas são caracterizadas pela despolitização de escritores e artistas que abrem mão de filiações ideológicas e ações coletivas. Se a onda conservadora ainda está alta, procurando naufragar com a estupidez dos céticos um projeto político alternativo ao capitalismo, não podemos fugir do elo magnético que une arte e política. Mas para se compreender corretamente as questões artísticas e políticas, devemos antes conceber a estética enquanto campo utópico que não está a serviço do imediatismo da ideia política, pois ela é essencialmente  uma dimensão ideológica que antecipa as mudanças sociais.
    Não se trata de um anacronismo no qual a arte voltaria a ser um altar contemplativo, um refúgio metafísico. Walter Benjamin foi muito claro quando definiu a crise da aura nas obras de arte. Para se pensar arte revolucionária é preciso investigar as vanguardas históricas sem nenhum tipo de preconceito. Deste modo será verificado que as vanguardas em suas especificidades não anunciaram apenas rupturas formais. Tão pouco as rebeliões de vanguarda foram muletas para ideologias políticas. A arte de vanguarda exigia uma transformação total da representação, revelava o brotar de uma percepção moderna das coisas e um novo sentido da vida em comunidade. Reorganizando o olhar, os vanguardistas destruíram cânones estéticos ao mesmo tempo em que a dinâmica interna da arte foi preservada. Mesmo se configurando em agiprop, como no caso da arte soviética, as vanguardas abandonaram velhas noções de beleza e partiram do maquinismo, das novas técnicas, do automatismo, da realidade das massas para introduzir uma sensibilidade revolucionária que por sua vez era o correlato simbólico do socialismo.
  Da mesma maneira que seria de uma grande burrice cultivar anacronicamente formas de vanguarda desconectadas de seu contexto histórico, não se conseguirá uma porta através da apelação ideológica que na maioria das vezes atropela a lógica interna da forma. Para que a arte possa continuar combatendo a sociedade burguesa, ela deve se aliar com os movimento políticos de esquerda ao mesmo tempo que deve ser livre em suas pesquisas estilísticas. Entre o liberalismo burguês e as práticas libertárias da arte existe um grande abismo. Seja em suas vertentes construtivistas ou oníricas, as vanguardas ainda nos inspiram a entender sem a ansiedade da pseudo militância, o papel emancipador da arte.


                                                       Os Independentes   

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