Numa partida, quando o jogador foge das regras leva um cartão amarelo, e dependendo, vermelho. Já no teatro(revolucionário, é claro) não existem cartões de advertência e expulsão, pois o ator consciente do seu papel político, pode fugir de todas as regras sociais e estéticas quando está em ação: ele não procura fazer um gol, ele não se importa com vaias ou aplausos; seu objetivo é libertar a consciência política e o corpo reprimido dos espectadores(que não se limitam a torcer mas participam do espetáculo). Evidentemente que as autoridades sabem do poder político do teatro, e logicamente que os capitalistas não vão investir na sua própria cova. E o povo diante do teatro revolucionário? Vamos acabar logo com esta conversa elitista/paternalista que considera os trabalhadores incapazes de compreender/sentir um espetáculo teatral. Pra começar não é um problema de comunicação: grupos de teatro político da atualidade já comprovaram que operários observam com atenção manifestações cênicas de rua. O teatro revolucionário moderno não possui elementos herméticos mas populares: O circo e o teatro de variedades em Meyerhold , o boxe e o cabaré em Brecht, por exemplo.
Quem tem medo do teatro é a burguesia... Diante disso a política cultural dos partidos socialistas, precisa incorporar as ideias de Oswald de Andrade para a criação de teatros de estádio. Oswald foi certeiro naquele que é o mais genial manifesto do teatro político moderno no Brasil: Do Teatro, Que é Bom. O texto, que já publicamos aqui, integra o obrigatório livro de artigos de Oswald Ponta de Lança, de 1945 . Oswald é muito claro ao dizer que na era da máquina um teatro de choque, sadio e popular, pode ajudar a reeducar o mundo quando os meios de produção forem finalmente coletivizados. Embora o Brasil esteja distante do socialismo, esforços na direção de um teatro de estádio ocorrem há um bom tempo. O grande defensor da ideia é o teatrólogo Zé Celso, que á frente do grupo Teatro Oficina(as décadas passam e o grupo ainda faz um teatro danado de bom), persiste na militância antropofágica, dando continuidade ás ideias de Oswald.
Se não interessa para a classe dominante um teatro de estádio, mediante o seu alcance político libertário, o que o teatro pode fazer? Por hora temos que insistir nos focos de resistência , recorrendo á diferentes estratégias cênicas(alguns praticam um teatro didático, outros creem na crueldade de Artaud, etc) e o mais importante: não sermos coniventes com a pequena burguesia de plástico, mas buscar um público popular. O teatro é frágil sem um projeto político que norteie suas práticas. Não podemos apenas conceber o Estado como uma grande vaca aonde todos nós podemos mamar as verbas. Não me oponho aqueles que usam verbas públicas para fazer teatro(desde que seja um teatro que contribua com a transformação cultural e política do país, respeito). Mas penso que ainda é pouco, pois a questão é política, afinal o estético e o econômico não se separam da dimensão ideológica: somente o socialismo pode abrir portas para o teatro de estádio que Oswald sonhou. É compreensível(mas não perdoável) que alguns desanimem diante do cenário político atual: a coqueluche da Copa 2014 parece sufocar as intenções de um teatro disposto a reeducar as massas. Mas não importa: sigamos como guerrilheiros do palco violentando a cultura dominante, acreditando no socialismo e construindo as condições para o teatro, que é bom.
Geraldo Vermelhão
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