Quem tem medo da literatura revolucionária de Patrícia Galvão? Com exceção de professores corajosos, pesquisadores ousados e militantes de esquerda, boa parte da intelectualidade que infesta os meios literários sente-se agredida com a ousadia técnica e a verdade social que brotam da pena vermelha de Pagu. Tratando-se particularmente de Parque Industrial(1933), primeiro romance proletário em terras brasileiras, um chiado pós-moderno parece querer censurar uma obra aonde engajamento político e experimentalismo se interpenetram. Portanto, este romance de Pagu, interessa hoje em dia exclusivamente ao intelectual engajado e principalmente aos jovens escritores trabalhadores deste país. Num momento em que a cultura das periferias transborda uma literatura violentamente realista, capaz de chacoalhar o marasmo estético e político das letras nacionais, o livro de Patrícia tende ajudar a colocar mais lenha na fogueira.
Para muita gente, Parque Industrial seria apenas expressão do realismo socialista. Isto não é verdade: mesmo existindo o dado da propaganda ideológica, com apologias claramente partidárias, esta que é uma das obras pioneiras da nossa literatura proletária, alia as experiências estéticas mais avançadas do modernismo brasileiro com a exigência de uma literatura voltada para a agitação política operária. Claramente influenciada pela forma experimental do romance Serafim Ponte Grande, do seu então companheiro Oswald de Andrade, a escritora acaba por ultrapassa-lo. Ela sustenta uma proposta artística que ainda não foi devidamente reconhecida em sua evidência histórica: o conteúdo revolucionário requer uma forma revolucionária, verdade esta que muita gente ainda não sacou e que levou outros, como Maiakóvski, a insistirem no assunto até a morte.
Com cortes rápidos, agilidade gráfica(originalmente as letras eram grandes e o espaçamento entre as linhas também, visando assim o público pouco familiarizado com a palavra escrita) e crueza na hora de retratar os dramas de operárias da cidade de São Paulo, Pagu apresenta a rara conjugação entre literatura proletária e literatura de vanguarda; uma proeza rara em nossa História literária subterrânea .Como é sabido, Patrícia insere ainda a questão de gênero ao debater não apenas as questões sócio-econômicas mas também sexuais, mostrando que a monstruosidade do sistema capitalista está presente em todas as relações sociais: a mulher proletária é oprimida no trabalho e no corpo.
Assinado com o pseudônimo de Mara Lobo(por exigência do Partido Comunista, num período em que este estabelecia uma relação tumultuada, cheia de desconfianças, com artistas e intelectuais de esquerda), Parque Industrial apesar de escrito há mais de oitenta anos, é um livro obrigatório para os romancistas brasileiros dispostos a denunciar o capital e colocar a rapaziada para pensar. É uma verdadeira missão intelectual para professores e também para as publicações culturais de esquerda, fazerem com que este romance chegue ao público certo: escritores trabalhadores, os únicos que podem arrancar a literatura atual do " EU " que toma conta de boa parte da prosa e da poesia brasileiras.
Lenito
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