segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A plateia e a renovação da linguagem teatral:

(...) Para os que se propõem um teatro comprometido politicamente, ou ao menos colocando problemas sociais urgentes, o conhecimento da composição social da plateia é fundamental. A ideia de um teatro diretamente voltado para a classe média, já que as classes altas não interessam e as baixas estão e estarão certamente ausentes por algum tempo, esbarra com problemas difíceis. A composição ideológica da pequena burguesia é uma salada de indecisões e preconceitos, ideologia que se caracteriza justamente por sua inexistência. Levar a este público uma mensagem de inconformismo e de renovação do pensamento necessita ao menos um prévio acertar o passo com dados essenciais desta classe, para que o que seja dito tenha possibilidades efetivas de produzir algum efeito sério, ao menos como inoculação de esclarecimentos que revelam didática ou emocionalmente , ou utilizando ambos os recursos ao mesmo tempo, dados significativos da realidade brasileira de hoje. Como estabelecer este diálogo com este público é geralmente a vítima de qualquer análise sócio-estrutural da sociedade, é igualmente um problema aberto, fundamental para determinar a escolha de um repertório e a realização de uma atividade criadora que não acomode em fórmulas usadas e já gastas, mas que busque uma linguagem nova(...) As tentativas de promover espetáculos para sindicatos ou organizações de classe igualmente são cada vez mais difíceis, pois estes sindicatos e estas organizações de classe não possuem mais sentido ativo dentro das mesmas, estão desarticulados, manobrados, sem maiores contatos com seus membros(...) As prefeituras deveriam promover efetivas temporadas de espetáculos em bairros, mas para isso fornecendo ás companhias verdadeiras condições financeiras para divulgação e concretização de um plano regular de trabalho.


                                                       Fernando Peixoto, 1968. 

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