Companheiros:
Insistimos mais uma vez que a derrocada da sociedade capitalista depende, intimamente, de profundas transmutações no campo da percepção, da dimensão estética. Se a arte e a literatura não podem superar sua crise fora do engajamento político, tão pouco a política poderá contribuir para uma mudança mental qualitativa dos trabalhadores fora da ação artística revolucionária. Não podemos nos entregar a um otimismo grosseiro que acena para o socialismo de forma fatalista, como se estivéssemos próximos de uma profunda transformação radical da sociedade. As jornadas de junho foram uma grande lição política, mas sabemos que quem estava nas ruas, em grande parte, não era a classe operária. É preciso lidar portanto com o contexto mental, com a manipulação das forças culturais reacionárias que reprimem a consciência revolucionária dos trabalhadores.
O socialismo é antes uma construção política que passa obrigatoriamente pelo campo da cultura. Não se pode modificar um modo de vida esperando o instante de" uma grande noite ". É preciso, dentro do ventre capitalista, estabelecer relações, proposições, enfim experiências sensíveis que arranquem o proletariado da servidão psicológica derivada das imposições ideológicas. Como podemos falar em avanço político se a classe trabalhadora encontra-se submetida á linguagem da chamada " cultura de classe C "? Os gostos e as práticas da classe trabalhadora brasileira correspondem ás expectativas socialistas? Seria ingênuo afirmar, ainda que com argumentos " científicos ", que a crise econômica arrasta mecanicamente o proletariado para a insatisfação política. Para que o inconformismo político caminhe na direção do socialismo, um longo processo de esclarecimento ideológico se faz necessário. Justamente porque o ritmo da luta de classes é imprevisível, os trabalhadores da cultura devem atuar nas particularidades da esfera artística: agitar, instruir, provocar são deveres intelectuais que fazem da cultura não um terreno de construção posterior á implementação do socialismo, mas uma das bases fundamentais para a sua consolidação.
A cultura é o solo por onde os nutrientes estéticos fortificam novas formas de socialização. Infelizmente grande parte das organizações de esquerda não conseguiram ainda criar uma atuação específica na esfera das artes. Advertimos que isto pode ter enquanto consequência imediata um tremendo atraso para a consciência política.
Independentemente da economia desenhar tempos de vacas gordas ou magras, o trabalho cultural revolucionário é permanente, é ininterrupto. Esperamos que nosso apelo seja considerado por todos aqueles que almejam o socialismo.
Conselho Editorial Lanterna
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