sábado, 21 de dezembro de 2013

Liberdade e Internacionalismo em Hélio Oiticica:

Aí, Hélio Oiticica ainda é a referência das referências entre artistas libertários no Brasil(e quiçá no mundo). Isso nada tem de tietagem, não tem nada a ver com papinho de fã: é apenas a constatação de que a obra viva de Hélio ainda ajuda a acender o pavio. Para seguir adiante no grande rombo social que as revoltas de 2013 abriram, temos que problematizar as ideias artísticas deste anarquista, neto de anarquista e pai de todos os libertários que desejam transformar a sociedade a partir do ambiente, das proposições que subvertem a percepção(falo politicamente!) e o comportamento dos indivíduos. Na minha opinião marxistas envolvidos com arte também só tem a ganhar com o estudo e a prática das ideias de Hélio; digo isso com base no fato de que a dimensão política na arte de Hélio Oiticica ultrapassa o óbvio, o panfletão moralista que ainda encanta o Sr José Ferroso.
  Partindo das teses da Nova Objetividade, de 1967(completamente diferente daquela defendida por artistas alemães no começo do século passado), podemos extrair na " vontade construtiva geral " de Hélio, dois pressupostos para revolucionar a expressão. Não se trata apenas de superar o cavalete e o peso escultural, etapa consolidada já nos anos sessenta com o trabalho arretado dos neoconcretos(o próprio Hélio saiu na frente de todo mundo ao colocar a rapaziada  da Mangueira para vestir o quadro com os Parangolés, e assim fazer a obra de arte sambar!). As consequências atuais da Nova Objetividade segundo Hélio, encontram-se na consciência libertária e internacionalista que brotam das proposições ambientais. É neste ponto que a priorização  da participação popular em situações que acabam com a divisão burguesa entre artista e espectador, possibilita um novo e super atual entendimento sobre as implicações políticas da arte. 
  Para Hélio não dá para insistir na mensagem política mastigada contida em formas tradicionais de arte. Mesmo com um discurso " revolucionário ", voltado para " o proletariado ", esta arte perdeu o trem da História porque o povo não é uma entidade abstrata mas uma coletividade feita obviamente de indivíduos, que não sabem que estão vivos; somente pelo gesto criador pode-se questionar as condições massacrantes do trabalho social e assim obter pela participação popular na arte uma posição política contrária ao sistema.   Num mix muito louco de Duchamp e Bakunin, Hélio ataca a passividade, a repressão da libido e a própria condição de alienação social quando concebe o povo enquanto artista que age diretamente sobre o meio ambiente, sobre a matéria, alterando a partir do micro as relações de poder. Diante de colonialismo cultural que perpetuamos ainda hoje com a importação cega e puramente comercial, a antiarte brasileira de Hélio Oiticica é internacional porque possui um valor de liberdade para todos os indivíduos escravizados pela sociedade de consumo. É a ilustração precisa, a prática direta do " exercício experimental de liberdade " que Mário Pedrosa(um verdadeiro guru para Hélio) defendia para a arte do nosso tempo. 
  Com o acesso facilitado ás ideias de Hélio através de livros e documentários, já temos meio caminho andado para insistir numa arte que, como o próprio artista brasileiro gostava de dizer, é capaz de " virar a mesa ".


                                                                       Marta Dinamite 

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