Embora a esquerda brasileira(de um modo geral) encare as questões culturais quase como um parêntesis da luta política, existem em algumas organizações importantes discussões em torno da criação artística dos nossos dias. O caso do movimento estudantil revela um contexto fecundo para isso, já que para os mais diferentes partidos e correntes de esquerda, o tema da arte diz respeito geralmente aos " jovens ", aos temas da juventude(uma generalização que merece certa cautela, já que assim como a escola e a universidade, os sindicatos e os movimentos sociais também necessitam de uma vivência cultural contestadora, que não seja necessariamente de " juventude ").
Diante disso, estejamos atentos ao que irá rolar da nona edição da Bienal da UNE(União Nacional dos Estudantes). A edição do evento que irá ocorrer entre os dias 1 e 6 de fevereiro na cidade do Rio de Janeiro, tem por título " Vozes do Brasil ". Como vem sendo divulgado pelos veículos ligados a esta entidade estudantil, a nona edição da Bienal pretende discutir a linguagem no Brasil e consequentemente a diversidade revelada nos diferentes registros escritos ou falados. Tudo indica que uma grande quantidade de jovens irá apresentar o tema através da literatura, do teatro, do audiovisual, da música, das artes plásticas, etc. Pois bem, este será um momento válido para se refletir sobre a maneira como a produção artística está presente no atual movimento estudantil, visto que este não se restringe aos grupos e correntes que apoiam a própria UNE: da mesma maneira que a posição política de muitas organizações de esquerda da atualidade são contrárias ao governo, no plano cultural também não existe unanimidade, seja ela política ou estética. O fato é que a nona edição da Bienal da UNE deve ser observada por todos os militantes de esquerda, independentemente de sua filiação política. Dito isto, o que precisa ser analisado e exaustivamente debatido, é a maneira como a cultura está sendo criada, experimentada e teorizada pela esquerda brasileira.
Historicamente o movimento estudantil brasileiro representa um destacado celeiro de tendências estéticas para a arte contestadora. Seja na perspectiva nacionalista cuja raiz está no CPC(Centro Popular de Cultura) ou na dimensão mais vanguardista, experimental e internacionalista, cuja origem remete ao pessoal da antiarte e da contracultura. Sendo assim é vital o que os estudantes de hoje, provenientes de diferentes origens sociais e regionais, continuem contribuindo com a vida artística brasileira. Aguardemos.
Lúcia Gravas
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