quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Caricatura, romance e intolerância na Europa:

Se a Europa deu-nos durante os últimos duzentos anos expressões revolucionárias na literatura, na pintura, na filosofia e em outras inúmeras áreas da cultura, atualmente é o lado conservador que ganha força. Os casos da Alemanha e da França são visíveis com o avanço da extrema direita: intolerância é a palavra que precisamente traduz um sentimento de aversão por culturas estrangeiras, especificamente por imigrantes adeptos do islamismo, os quais supostamente ameaçariam a " identidade cultural " alemã e francesa. A coisa toda só vem piorando com o ataque covarde ocorrido no último dia 7, em que terroristas adeptos de uma leitura fundamentalista do Islã, atacaram em Paris a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, assassinando funcionários. Este trágico acontecimento envolvendo esta publicação conhecida por realizar caricaturas do profeta Maomé e de outros nomes da religião muçulmana, acaba por levantar o seguinte problema: como defender a diversidade cultural e a liberdade de expressão da fúria fascista, quando organizações fundamentalistas acabam dando gás para os conservadores?
 Num cenário hostil aos grupos e minorias étnicas, outras manifestações culturais além de desenhos satíricos, parecem intensificar o debate político na Europa. Este é o caso do recentemente publicado romance Soumisson , de Michel Houllebecq. No livro o autor narra numa ficção que se passa em 2022, a chegada ao poder de um partido muçulmano. De acordo com as primeiras repercussões do romance na esquerda francesa, trata-se de uma obra que ao expor o choque entre valores ocidentais e o Islã, acaba por reforçar a influência da extrema direita que rechaça a imigração muçulmana na França. A temperatura deve elevar-se ainda mais pelos próximos dias. Para se responder a um cenário de intolerância que parte tanto da extrema direita quanto de organizações terroristas, deve-se compreender que se a esquerda deve zelar pela liberdade de expressão (entre romancistas e cartunistas, por exemplo), ela deve também saber fazer uso da mesma para denunciar as tendências políticas conservadoras da Europa.


                                                                                                  Geraldo Vermelhão

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