terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Criação artística e agitação política:

Entre a descrença sobre o potencial político da arte(que exprime a posição do artista reacionário) e a visão idealista baseada na ideia de que  a arte sozinha transforma a realidade(a qual exprime o artista que não compreende o funcionamento da organização social), pairam inúmeras confusões ideológicas. Se é verdade que a formação intelectual de muitos artistas é teoricamente frágil, não resistindo assim a uma indagação mais profunda sobre o sentido da experiência estética na realidade concreta, devemos em contrapartida nos perguntar por que a esquerda não consegue mais exercer, de maneira satisfatória, influência sobre a criação artística.
 Novas expressões artísticas de contestação social existem, e são produtos evidentes dos ambientes de esquerda: vídeos militantes que reinventam o cinema de autor, cartazes de rua ancorados na arte gráfica soviética e peças teatrais que revisitam as estéticas de Maiakóvski e Brecht, seriam exemplos disso. Porém, a grosso modo, o que observa-se  é um completo quadro de alienação e uma grande antipatia pelo pensamento marxista; já que é bem mais seguro e aconchegante esconder-se nas teorias evasivas dos estetas do umbigo. Sim, não estão na classe média esnobe que vive com os narizes no céu e os olhos no nada, os artistas contestadores dos nossos dias. Deve-se portanto investir fisicamente e politicamente no contexto popular: é ali que encontram-se artistas que possuem uma sensibilidade que vai totalmente de encontro com a criação artística que torna-se uma poderosa expressão de agitação política. A esquerda só poderá recuperar a sua influência cultural aonde o povo está.


                                                                                                     José Ferroso 

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