sexta-feira, 28 de novembro de 2014

As lições teatrais de Brecht servem ao cinema político:

O deslumbramento diante das engenhocas do mundo digital, é um dos principais empecilhos para se chegar a uma visão crítica da realidade. Seja diante de um comercial ou de um filme, boa parte do público deseja ser tragado pela imagem. Ver o público sucumbindo diante da experiência audiovisual, a partir de um delírio metodicamente fabricado, é o que todo capitalista deseja para segurar na coleira os consumidores passivos. Para reagirmos contra este avançado estágio de alienação social, coloca-se mais uma vez enquanto projeto estético as lições do teatrólogo alemão Bertolt Brecht.
 Glauber Rocha afirmou, mais de uma vez, que o método de encenação brechtiano é insuperável diante das necessidades de representar os problemas sociais. As técnicas que levam ao distanciamento crítico e ajudam a liquidar todo envolvimento aristotélico, são imprescindíveis para evitar que as pessoas sejam cozinhadas pelas estéticas que trabalham pelo capital. Pensar e se divertir não são noções contrárias, mas aspectos complementares de um espetáculo teatral. Isto pode estender-se para o cinema que não cabe nos estreitos limites do convencionalismo naturalista; aliás é exatamente este mesmo naturalismo que muitos cineastas brasileiros praticam, já que a sua própria formação cinematográfica é reacionária: diante dos filmes hollywoodianos eles estavam bem acordados, mas quando deparavam-se com algum filme de Glauber ou Godard, cochilavam.
  A estética de Brecht aplicada ao contexto audiovisual não é apenas uma escolha, mas uma necessidade política de combate aos hipnotizadores profissionais da era digital.


                                                                                                Lenito 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A força contestadora dos Racionais MC´s:

Se nas últimas duas décadas, vários foram os rappers que capitularam diante da sociedade de consumo(muito especialmente nos EUA), muita gente do universo Hip Hop(sobretudo no Brasil) mantém-se no plano da resistência política, da crítica social. Inquestionavelmente a banda Racionais MC`s é a mais evidente demonstração de contestação social no universo do rap e da música black em geral. Eles acabam de lançar mais um importante álbum: Cores & Valores , sexto disco da banda. Denúncia social e questões envolvendo o cotidiano do proletariado brasileiro, dão o tom de um trabalho sofisticado e esteticamente muito bem elaborado. 
 Para muitos que alimentam-se diariamente das inúmeras formas de irrelevância musical presentes no mundo atual, ouvir Racionais MC´s gera um brusco impacto sonoro: é a realidade, em suas profundas e terríveis  diferenças, que gera a alma contestadora do grupo. Longa vida aos Racionais MC´s !

              
                                                                                                  Tupinik  

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eros, poesia e luta de classes:

O amplo universo de imagens que povoa a imaginação do poeta maldito, impulsiona o conflito com a moral estabelecida. Enquanto sublimação, a literatura não apenas desvia a energia sexual(que do ponto de vista psicanalítico é a raiz de toda produção cultural). A criação literária também amplia o desejo, fazendo do verbo extensão direta da sexualidade. Pois bem, haveria razão para separar sob o ponto de vista político esta evidência poética da luta material, econômica dos trabalhadores? Filósofos reacionários tentam separar as questões corpóreas e as suas relações com a estética, dos fatos econômicos. Nada poderia ser mais idealista: a existência material pré existente faz com que o corpo e a matéria, e ao mesmo tempo a sexualidade e a economia, determinem as formas culturais: a repressão dos instintos para o trabalho alienado não se separa de uma administração do desejo e da exploração. Penso que a energia erótica da poesia é um gesto de oposição política a isto.
 O poeta para ser revolucionário deve ter consciência acerca dos instintos e da divisão social do trabalho. A própria figura do poeta tende ao ataque, ao contraste com um princípio de realidade opressor do capitalismo. Portanto não é estranho para a ótica marxista incorporar ao seu exército cultural e político , o desregramento que caracteriza gente do calibre de Rimbaud e Lautréamont. O poeta é, como referiu-se Benjamin Péret, um revolucionário em si. Fora disso, o que existem são versinhos.


                                                                                               Os Independentes

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O marxismo é o oposto do realismo socialista:

Para os leitores que são militantes de esquerda, ou pelo menos familiarizados com o pensamento marxista, afirmar que este último não tem absolutamente nada a ver com a estética do realismo socialista, é chover no molhado. Entretanto, devemos hoje estar atentos com o fato da desconstrução do pensamento marxista alimentar calúnias, associando as ideias de Marx e Engels com o zdanovismo. A verdade é que uma nova polarização ideológica tem impulsionado difamações: intelectuais  anticomunistas estabelecem  afirmações caluniosas, colocando Lenin no mesmo pé de Hitler. Tomando os erros políticos do stalinismo e do maoismo enquanto sinônimos de materialismo dialético, estes intelectuais, geralmente muito bem pagos, procuram atacar as ideias socialistas, inclusive no terreno da arte. Não é de se espantar que estudantes e jovens artistas acabem revelando certa antipatia pelo marxismo: a visão caricata e distorcida que toma o zdanovismo enquanto " arte de esquerda ", só pode gerar repulsa. Em contrapartida devemos esclarecer a juventude que isto é exatamente o oposto da maneira como o marxismo entende a questão da arte.
  Colocar em debate a existência ou não de uma estética marxista, é algo que hoje não inclui  mais a propaganda ideológica em torno do " herói coletivo do trabalho ". O realismo socialista enquanto concepção de uma arte que não é criada mas fabricada para atender ao culto direcionado a Stálin, não guarda semelhanças com as reflexões marxistas empenhadas em compreender o papel político da arte para os trabalhadores. Enquanto fator superestrutural, a arte não é reflexo passivo e tão pouco ferramenta submetida aos interesses burocráticos de algum centro de poder político. Para ser revolucionária e portanto participar ativamente da vida política, a arte deve compreender um conjunto de expressões que se opõe ao sistema capitalista, lutando simbolicamente contra um modo de vida estabelecido pela classe dominante. Para o marxismo a arte não é propaganda ideológica, mas uma arma cultural que influi sobre a maneira como os trabalhadores sentem e interpretam a realidade. 
O realismo socialista teorizado por Gorki e Zdanov na ex União Soviética, comprometeu por muito tempo o parecer que os comunistas tinham em relação aos problemas artísticos. Tirando algumas exceções como Leon Trotski, Victor Serge, André Breton, Georg Lukács, Walter Benjamin e Bertolt Brecht, muitos intelectuais e artistas de esquerda  caíram na ladainha stalinista, adotando o realismo socialista. Ainda que estes citados autores não entendam a arte da mesma maneira,  o fato é que o pensamento marxista já deu(através destes autores e de muitos outros) demonstrações históricas  de crítica e superação das baboseiras zdanovistas.
 Se o realismo socialista existe hoje enquanto peça de museu ou estética presente indiretamente em algumas manifestações artísticas e publicitárias, devemos com toda energia combater a sua associação com o pensamento marxista. É preciso em defesa do próprio marxismo, rebater os ataques impróprios cometidos por pessoas cujo papel intelectual mercenário, é defender a arte enquanto mercadoria a serviço da alienação social.


                                                                                          Afonso Machado   

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Realismo e compromisso político:

A opção pelo realismo não é apenas estética. O realismo implica em posicionar-se diante da realidade social. Logicamente que na História da arte realista(englobando assim literatura, pintura, teatro, cinema, etc), nem todos os artistas eram revolucionários e nem sequer sensíveis quanto aos problemas sociais. A " reprodução do real " esteve a cargo também de artistas conservadores e até aristocráticos. Entretanto, o material humano que o realismo abarca no mundo contemporâneo, apresenta inevitavelmente os confrontos entre as classes sociais. Fotografar uma criança pobre e faminta, pode conduzir a imagem para o humanismo burguês ou para a crítica revolucionária. Separar estas intenções ideológicas na criação de uma imagem, passa pela maneira como o artista reconstitui a própria realidade. Neste sentido o marxismo é a principal ferramenta que permite no plano estético a imagem que não inspira piedade, mas exige a transformação da sociedade.
 O chamado neo realismo que se constitui no pós guerra, ainda possui muito fôlego expressivo. Especialmente no cinema, o neo realismo torna-se uma janela que coloca a cabeça para funcionar, mesmo quando " entretida " pelo filme. Sobretudo o neo realismo italiano, que encontrou em gente como Rossellini , uma forma de desintoxicar e libertar a cultura do fascismo, traz para o campo do cinema uma reflexão viva sobre o social. É portanto esta característica do realismo em denunciar e apresentar as contradições da vida em sociedade, que não pode ser desvencilhada de um posicionamento político de esquerda. 
   As lições do neo realismo servem ainda para os artistas brasileiros. Em oposição aos aparatos estéticos de uma classe média cada vez mais preconceituosa e alienada, o realismo ainda é uma fonte de inspiração.


                                                                                      Lúcia Gravas    

domingo, 23 de novembro de 2014

Ocupações ajudam na criação de uma cultura anticapitalista:

De alguns anos pra cá, observa-se um movimento internacional que contesta o desenho excludente das grandes cidades capitalistas. Ainda que não seja um movimento coordenado, trata-se de um conjunto de manifestações culturais que reage contra o desemprego, a privatização, a falta de moradia e a destruição do espaço público. O ato coletivo de ocupação cultural em praças ou locais abandonados, seja para moradia, acampamentos improvisados ou festas alternativas, corresponde a uma posição política que visa redefinir os espaços de convivência social. É o que vem rolando nos últimos anos em cidades como São Paulo, Nova York, Berlim e outros contextos cosmopolitas.
 Se o capitalismo apresenta-se enquanto sistema que explora, descarta, marginaliza e ao mesmo tempo sustenta apelos visuais que manipulam a nossa percepção, as ocupações culturais independentes são acolhedoras, comunitárias e esclarecem o que realmente se passa. É o oposto de uma cultura de shopping center: operários e gente de classe média se misturam em festas, expressam-se artisticamente(cantando e tocando violão, por exemplo) e debatem os problemas do mundo urbano. Aliás, do ponto de vista urbanista, é interessante como locais tidos por " cemitérios urbanos ", por não exercerem uma função econômica que encha o bolso de algum capitalista, tornem-se através de festas alternativas, pontos de convivência cultural.
 Esperamos que estas experiências culturais espalhadas mundialmente, contribuam para fortalecer criações artísticas que impulsionam uma sensibilidade anticapitalista.


                                                                                      Marta Dinamite

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A urgência de uma crítica literária marxista:

As resenhas sobre literatura enxugaram consideravelmente na grande imprensa. Mesmo na imprensa especializada, raros são os momentos em que o crítico apresenta um instrumental teórico eficiente para refletir sobre o significado estético e histórico de obras literárias. Críticos competentes existem, é verdade. Mas precisamos almejar mais do ponto de vista analítico. Tenho pra mim que isto deve-se essencialmente ao fato da literatura não ser uma ilha em si mesma, fazendo-se necessário um método de compreensão acerca do texto literário. Creio que o marxismo responde essencialmente a esta necessidade metodológica.
 Pouca gente comenta o fato de Marx e Engels terem desenvolvido paralelamente aos seus trabalhos voltados para a Economia Política, críticas e reflexões sobre arte e literatura. A razão para isto não se deve tanto ao fato de ambos serem homens cultos: estes autores comunistas, pais do socialismo científico, relacionavam a literatura com o processo histórico. Ou seja, a criação literária não pode ser compreendida fora de um modo de produção. O fenômeno literário é assim parte integrante de uma totalidade histórica, sendo o escritor um participante ativo da própria História. Uma extensa tradição de críticos e estetas marxistas, deram continuidade a esta evidência imprescindível para a crítica literária, nas mais diferentes direções teóricas.
 Se a crítica literária ignorar o marxismo, a tendência é uma reflexão parcial sobre a própria literatura.

                        
                                                                                              José Ferroso  

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sem cultura afro não existe arte de esquerda:

No dia nacional da consciência negra, faço questão de afirmar que sem a contribuição incalculável da cultura afro, não poderíamos cogitar a existência de uma arte de esquerda. Afinal de contas, o continente americano e o mundo todo, foram salvos da caretice da cultura burguesa graças aos componentes estéticos de origem afro. No Brasil em particular, é preciso destacar que a nossa música foi de fato descolonizada a partir de gêneros musicais como o samba. 
 Nossa infinita gratidão vai para os artistas negros do Brasil que enfrentaram o racismo, a exploração econômica e toda estupidez herdada pela classe dominante deste país. 

                                                                                              Tupinik

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Mostra de Cinema Russo:

Termina hoje(19/11) na Cinemateca Brasileira em São Paulo, a mostra Mosfilm 90 anos. Organizado pelo Núcleo de Cultura da UMES(União Metropolitana de Estudantes), o evento envolveu a exibição de dez longas metragens produzidos pela Mosfilm(Moscou Filmes), importante produtora de filmes russos.Com entrada franca, esta mostra representa uma iniciativa culturalmente louvável, que permite um imprescindível  debate estético sobre a História do cinema russo. Dos pioneiros na criação do cinema soviético dos anos vinte, passando pelo sombrio período das tesouras stalinistas entre as décadas de trinta e quarenta, a mostra aproxima-se dos nossos dias ao exibir produções praticamente desconhecidas pelo público brasileiro: são filmes que datam dos anos sessenta, chegam aos anos noventa e desembocam na atual produção cinematográfica moscovita. Dentro do atual cinema russo,  cabe destacar o longa Tigre Branco(2013), da cineasta Karen Shakhnazarov.
 Sob o ponto de vista revolucionário, todas as atenções acabam se voltando logicamente para o cinema realizado na antiga União Soviética. Muito especialmente a safra de filmes que flagra a intersecção entre cinema soviético e vanguardas, é o que permite uma vital revisão crítica dentro do cinema político: a invenção esteticamente associada aos componentes do Construtivismo russo da década de vinte, foi brutalmente interrompida pela barbárie do stalinismo. Quem não dançasse conforme a flauta do realismo socialista, saia de trás da câmera direto para o campo de concentração. Mas mesmo após a morte de Stalin em 1953, o cinema e a arte soviética de um modo geral, permaneceram apartados da criatividade revolucionária proveniente das vanguardas. Pesquisar e debater as causas disto, leva-nos a uma soma de erros políticos e culturais da ex-União Sovietica(e por tabela da esquerda mundial). É isto que deve ser colocado em foco hoje pelos militantes de esquerda, se quisermos produzir e defender um cinema revolucionário.
  Historicamente falando, é bem mais frutífero ficarmos com os primeiros filmes de gigantes do cinema soviético como Eisenstein e Vertov.


                                                                                         Os Independentes

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O teatro precisa ser parte da cultura dos trabalhadores:

Recentemente ouvi um conhecido dizer que a razão para o teatro não ser parte integrante da realidade do proletariado, deve-se ao fato da arte teatral destinar-se a um público mais " sofisticado ". Gostaria de tentar corrigir tamanha equivoco: o teatro é sob o ponto de vista popular, uma forma de arte que se comunica perfeitamente com as massas. Se ele não é parte do cotidiano da maioria dos trabalhadores, devemos então buscar as causas disso na dinâmica cultural e econômica da atualidade.
 Em muitos casos, peças teatrais são executadas em espaços caros e geograficamente distante da moradia  da maioria da população. Mas ainda assim, existem inúmeros exemplos de teatros em bairros populares e com preços perfeitamente acessíveis. Bem, então qual seria o problema? Há décadas que o teatro perdeu boa parte do seu espaço para os meios de comunicação de massa; e isto agrava-se mediante as tecnologias digitais que em seu uso reacionário reproduzem comportamentos individualistas. Assim como o circo e o cinema, o teatro foi duramente atingido no Brasil por hábitos culturais privados, que adquirem terreno graças a um processo de deterioração do espaço público.Porém, seria hora de declarar que o teatro é parte somente da realidade pequeno burguesa, daqueles que saem para jantar fora e, se der, assistem a uma peça? Creio que é preciso reagir a este fatalismo se quisermos fazer jus  ao potencial político revolucionário do teatro.
 O teatro concebido enquanto manifestação que se faz em espaços populares, como feiras e praças, ou integrando-se aos contextos culturais da juventude proletária em escolas, é uma necessidade que depende de um projeto político contestador de quem produz arte teatral. O teatro é perfeitamente compatível com a realidade do povo brasileiro. O que está em questão são as estratégias a serem usadas para ele enraizar-se na vida cultural dos trabalhadores.

                                                                                                  Lenito    

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Exposição revela artistas combativos:

A exposição Gravura e Modernidade, em cartaz na Estação Pinacoteca, em São Paulo, revela não apenas importantes artistas brasileiros: ela nos mostra que vários deles eram artistas de esquerda, comprometidos com a denúncia e a crítica social. A exposição traz dentro do recorte histórico que vai da década de vinte até a década de sessenta, uma reunião de gravuras que integram-se ao melhor do legado de nossa arte moderna.
  A arte de cunho social revela-se em vários trabalhos. Caberia destacar por exemplo Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi, ambos engajadíssimos. O evento traz ilustrações de Goeldi para o romance Mar Morto, de Jorge Amado. Verificamos neste caso em particular, um encontro fecundo entre a literatura que apresenta o realismo social com uma concepção de gravura que não apenas ilustra mas potencializa, sob o ponto de vista estético e político, as intenções progressistas do romance. Imperdível


                                                                                        Geraldo Vermelhão

O cinema político precisa se comunicar com os trabalhadores:

Quando um público não familiarizado com discussões estéticas, depara-se com filmes que fogem do esquematismo da indústria cultural, é comum que alguns espectadores caiam no sono. É culpa do público ou é o cineasta que não consegue se comunicar com a massa? Claro, o paternalismo é sempre terrível, sobretudo em arte. A liberdade do cineasta é indiscutível, não cabendo nenhum tipo de restrição quanto ao seu processo criativo. Entretanto, o problema permanece: como sair dos guetos cinematográficos, do sofisticado oásis cult,  e atingir o grande público, que vem sendo amamentado a vida inteira pelo lixo do cinema comercial? Um cineasta sem perspectiva ideológica combativa, pode ignorar este problema. Já o cineasta engajado não.
O filme não pode ser uma mera abstração, mas um produto cultural capaz de fazer o espectador reconhecer(ainda que pela ficção, seja ela ambientada no século XVI ou no século XXI) aspectos essenciais da sua realidade. A reflexão social que surge a partir do filme e apresenta novas informações(e novas sensações), torna-se expressão cultural de um povo quando este entende o cinema enquanto conhecimento prazeroso. Não se trata de apelar unicamente para os sentidos de quem assiste, mas compreender que a problematização do real no filme requer uma dinâmica estética compatível com a realidade cultural e política do espectador. Estaria eu defendendo a simplificação do filme, que poderia assim confluir para o plano do folhetim ou do quadrinho? Se o folhetim ficou no século XIX, a linguagem dos quadrinhos é moderna e ágil  como o próprio cinema. Poderíamos elencar ouros gêneros modernos contemporâneos do cinema. Mas o objetivo aqui é o seguinte: radicalidade estética e política são compatíveis com diversão e a própria noção de espetáculo popular.
  Seria artisticamente ridículo utilizar a linguagem hollywoodiana para inserir no filme uma análise marxista. É uma baita contradição de termos. Entretanto, o velho Brecht já afirmava que o caráter político revolucionário não exclui formas populares, de diversão, na composição da obra de arte. Estejamos atentos a isto se quisermos que o público acompanhe o debate cinematográfico.

                   
                                                                              Lúcia Gravas 

domingo, 16 de novembro de 2014

Os militantes da cultura não suportam mais nenhum golpe de Estado:

Quando observo em redes sociais e manifestações de rua, pessoas pedindo que o exército brasileiro dê um golpe de Estado, sou tomado por um sentimento de horror. Não é preciso ser historiador para compreender os prejuízos políticos, culturais e econômicos que o golpe de 1964 trouxe para o Brasil. Censura, prisões, torturas e assassinatos: estes são os frutos históricos da ditadura militar. Cabe salientar que não eram apenas os comunistas que eram alvo da repressão: mesmo aqueles que não faziam a menor ideia do que é luta de classes, podiam dançar já que todo o poder estava nas mãos de um governo autoritário. Agora, cinco décadas depois, algumas pessoas(dentre elas estudantes  e artistas, rs) tomadas pela fúria direitista, pedem por um novo golpe! Se estes optam pela barbárie, pelo autoritarismo, os militantes de esquerda não podem ficar calados. Não se trata apenas de ser contra ou a favor do governo, já que muitas organizações de esquerda não compactuam com este. O que está em questão é uma ofensiva ultra direitista que é hostil a própria democracia, e logo inimiga das formas culturais que integram um projeto político popular e anticapitalista.
 Especificamente aqueles que como nós lidam diariamente com a militância cultural, precisam defender a necessidade de não submeter o Brasil novamente a uma onda direitista. Mais do que antes, precisamos cantar, cantar, cantar e cantar contra as forças políticas inimigas de toda e qualquer forma de liberdade.


                                                                                                        Tupinik

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Os artistas proletários do grupo Santa Helena:

Na História da arte brasileira, é comum encontrarmos artistas de classe média pintando cenas populares. Mas quando encontramos trabalhadores pintando trabalhadores e cenas do cotidiano, isto leva ao incomodo de especialistas. Artistas populares são esculhambados pelos críticos nem tanto pela questão técnica, mas pela sua origem socioeconômica. Ou seja, quem é ferrado e sem grana não penetra nos círculos da elite artística. Se hoje ainda é assim, o mesmo já ocorria na década de trinta: o grupo Santa Helena por exemplo, desafiava posições de poder, de classe, dentro da arte brasileira de então.
 Composto essencialmente por imigrantes europeus como Francisco Rebolo, Mário Zanini e Alfredo Volpi, o grupo Santa Helena envolvia artistas autodidatas e de origem proletária. Foi Mário de Andrade quem definiu o grupo como sendo o dos " artistas proletários ". E eram mesmo: entre trabalhos manuais, como pintar paredes e exercer funções operárias, estes artistas desafiavam a elite paulistana e seus preconceitos de classe. Dando passeios pelos arredores da cidade de São Paulo, os membros do grupo Santa Helena pesquisavam as cores, as paisagens e os tipos humanos da região. 
  Em nome de uma cultura produzida por trabalhadores, precisamos valorizar a produção artística dos trabalhadores.

                                                                                        
                                                                                          José Ferroso   

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Homenagem a Leandro Konder:

 Estamos profundamente abalados com a morte do intelectual marxista Leandro Konder. É uma perda incalculável para o Brasil, já que o que mais faz falta hoje são pensadores progressistas como Konder. O autor representa sem dúvida uma renovação no pensamento marxista no Brasil: foi ele quem chamou a nossa atenção para o chamado marxismo ocidental. As ideias de autores como Lukács e Gramsci ganharam força com o trabalho de Konder. Na campo da reflexão cultural e mais especificamente estética, Leandro Konder nos brindou com obras fundamentais, tais como o clássico livro Os Marxistas e a Arte, de 1967. Graças a trabalhos como este, encontramos uma fecunda análise da estética marxista. 
  Valeu  Konder!


                                                                 Conselho Editorial Lanterna

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A atitude " beat " faz bem para o artista de esquerda:

Nada mais chato do que um militante comunista que não sabe estalar os dedos. Na verdade, o comunista precisa estar atento a todo complexo repressivo que compõe a sociedade burguesa: a luta contra os interesses capitalistas que atinge o cerne do problema social, precisa ser acrescida de uma visão libertadora da personalidade, da expressão e da sexualidade. Ao mesmo tempo em que o marxismo nos fornece uma insuperável análise da História, outros importantes ingredientes contemporâneos nos ajudam a experimentar formas de comportamento que não contradizem mas ajudam na conduta revolucionária. Este é o caso da Beat Generation.
 Não entendo o motivo de separarem rigorosamente a militância comunista das manifestações contraculturais. Diferenças filosóficas existem, é claro: sabemos que não é possível transformar a cultura sem modificar as bases materiais que a sustentam. Portanto seria um equivoco político supor que simplesmente " cair fora " da cultura dominante, resolva o problema. Este foi o erro dos beats, que viviam de caronas, improvisando a vida, confundindo-se com lupens(embora muitos beats fossem de classe média na origem) e se autodestruindo na maioria das vezes. Feitas estas reservas sobre as características políticas idealistas dos beats (e das posteriores formas de contracultura), não podemos deixar de levar em conta o alcance libertário que sua literatura e sua arte em geral possuem. Infelizmente, raríssimas vezes a esquerda compreendeu a importância da contracultura. Nos anos 50, a revista literária norte americana Partisan Review, um importante veículo marxista independente, desceu a lenha nos beats acusando sua literatura de romântica e calcada no niilismo boêmio. Mas como é que não perceberam que Ginsberg, Kerouac e companhia inauguravam uma nova literatura, uma nova linguagem, uma nova atitude de contestação perante a classe dominante? Este tipo de juízo moralista é comum entre vários comunistas. Ao invés de debater o assunto, muitas organizações de esquerda preferem simplesmente rotular(para desqualificar) aquilo que foge do seu controle burocrático.   
 Um músico, um poeta ou um pintor que fazem parte da oposição artística contra a sociedade capitalista, tem muito a ganhar com a criatividade beat: sensualidade, protesto, liberações dionisíacas, fluxos do inconsciente, incorporação da fala das ruas, etc. Se em 1968 encontramos algumas exceções que revelam o diálogo entre a esquerda e a contracultura,  hoje mais do que antes necessitamos deste tipo de diálogo: referências políticas e culturais altamente conservadoras, andam bloqueando nos jovens a sua capacidade natural de contestar a ordem estabelecida. É preciso abrir os olhos da rapaziada. O que precisamos entender hoje é que marchar e dançar podem ser uma única e mesma coisa para os militantes de esquerda.

                                                                                                      Tupinik  

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O legado de Kandinsky:

Pronunciar o nome de Wassily Kandinsky significa dizer arte moderna; sobretudo em sua acepção mais radical, e que portanto contesta as tradições artísticas ocidentais. Isto pode ser constatado na exposição " Tudo Começa num ponto ", que apresenta o legado estético deste grande pintor russo. O evento inicia-se nesta próxima quarta feira(dia 12) em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil. Dos 25 trabalhos expostos de Kandinsky, é possível extrair uma das mais intensas revelações plásticas da História da arte.
 Kandinsky foi certamente o artista que recusou a função figurativa da pintura, para valorizar na forma livre e na cor independente a obra de arte enquanto um fim em si mesma. Formalismo? Não, a abstração ampliou as possibilidades criativas da arte redefinindo sua natureza comunicativa: a experiência estética não deve curvar-se a uma mensagem objetiva, fazendo do artista um simples mensageiro da " informação " acerca de objetos " externos ". Com a abstração encabeçada radicalmente pelo pintor russo, chega-se a uma redefinição psicológica da relação entre obra e espectador: as formas que emanam na tela por exemplo, possuem significados próprios, misteriosos. É pois esta libertação que fez a arte moderna subir mais um degrau na contestação ao gosto burguês.
 Kandinsky, teve uma trajetória e tanto: de principal cabeça do grupo vanguardista Cavaleiro Azul, na cidade de Munique em 1911, até a sua colaboração como professor  na Bauhaus, o artista russo participou de uma explosiva revolução cultural. Não se pode negar a sua influência decisiva nos movimentos de vanguarda do século passado. Todo este ímpeto de ruptura deve ser estudado pelos artistas dispostos a revolucionar a arte e a sociedade.

                                                                                               Lenito 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A poesia de João Cabral de Melo Neto desafia o olhar de classe média:

Exprimir por meio do verso sensações que assumem uma forma objetiva, foi talvez a grande busca do poeta João Cabral de Melo Neto. Uma rica trajetória literária que vai de um inicial flerte com a poética do surrealismo até uma poesia " precisa ", objetiva e com rigor métrico, levou João Cabral a deflagrar as contradições do real(o que obviamente inclui o problema social). É neste sentido que o poeta nos lega uma poderosa e penetrante poesia. Creio que o grande exemplo disto esteja na obra Morte e Vida Severina (1955), que traz a sina de dores e angustias de um povo explorado.
  Através do verso árido, conduzido pelo verbo seco e brutal como a realidade sócio econômica da região nordeste, Morte e Vida Severina apresenta um produto literário que nos humaniza pelo sofrimento, despertando o inconformismo social: a dura vida de um retirante em busca de uma vida melhor, leva-nos a refletir sobre as carências do nosso povo. Para um indivíduo de classe média do sudeste, uma obra deste porte poderia passar despercebida? Infelizmente para a maioria destes, uma obra como Morte e Vida Severina não passou de uma leitura obrigatória exigida na disciplina de Literatura Portuguesa, lá nos tempos da escola. Isto é lamentável, posto que a pequena burguesia deslumbrada com bugigangas eletrônicas e bobagens da indústria cultural, não consiga sentir a dor do outro, dor esta causada pelas desigualdades sociais. 
Mas nem sempre foi assim: jovens de esquerda souberam valorizar o legado de autores como João Cabral. Isto fortaleceu ainda mais a cultura quando este tipo de poesia se estendeu para o teatro e a música popular: em 1965 Roberto Freire montou uma versão teatral de Morte e Vida Severina, lá no Tuca da Puc de São Paulo. Na ocasião quem musicou a peça foi ninguém menos que Chico Buarque. 
 Diante de uma série de problemas que a poesia de João Cabral levanta, recomendo que os jovens façam uso dela para compreender o que é este país.

                                                                                       Lúcia Gravas  

domingo, 9 de novembro de 2014

Eisenstein na Televisão:

É verdade que a televisão é um meio que em 90% serve aos interesses do capital. Mas enquanto instrumento de comunicação, a TV também pode ser uma importante ferramenta que educa a sensibilidade, transmitindo conteúdos que permitam um alargamento da consciência política e da formação cultural dos telespectadores. Sendo assim, quando falamos no potencial educativo da TV ou de um modelo de TV educativa, é importantíssimo que a História do cinema seja colocada em foco. Neste sentido é papel da televisão discutir cinematografias que fujam dos padrões convencionais da indústria. O canal Futura por exemplo, exibiu ontem e irá exibir hoje filmes de ninguém menos que Serguei Eisenstein.
 Num deserto de alienação que é a programação de vários canais de TV, Eisenstein representa um oásis e tanto. Ivan, O Terrível (1944) exibido ontem,  e A Greve(1924), que vai ao ar hoje na Futura(22h), são 2 verdadeiras pérolas do cinema soviético. Ambos estão situados em momentos distintos da carreira de Eisenstein: Ivan, O Terrível pertence a um período em que a censura stalinista e as obras de encomenda eram grandes ameaças para o trabalho dos artistas soviéticos. Ainda assim, fica difícil negar a densidade de uma fotografia que obriga todo e qualquer cinéfilo a conhecer esta obra. A Greve , já é um caso mais interessante: neste primeiro longa de Eisenstein, a tese da Montagem de Atrações é posta em prática, fazendo do filme expressão do movimento dialético entre as imagens. 
 Que na programação dos canais de TV voltados para o cinema de qualidade, prevaleça a figura de cineastas revolucionários como Eisenstein.


                                                                                               Lenito 
 


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A pintura de Diego Rivera:

Dentre os muralistas mexicanos, Diego Rivera foi certamente o mais ousado do ponto de vista artístico e político. Uma explosiva síntese plástica entre diferentes imagens, gera prodigiosos resultados: a exploração do trabalho, a repressão militar e os traços culturais do povo mexicano ganham uma tremenda amplitude expressiva nas obras de Rivera. Diferentemente de um Siqueiros, a pintura de Rivera é progressista não apenas enquanto tema social mas no tratamento moderno e ao mesmo tempo popular que as imagens recebem. 
 Tratando-se de Rivera, fiquemos com sua pintura e não com suas contradições pessoais. Se ele teve no final dos anos trinta, a coragem exemplar(e a solidariedade) de hospedar em sua residência Leon Trotski e empenhar-se na construção da IV Internacional, no pós guerra Rivera adere ao stalinismo. Mas deixemos isto de lado para nos concentrarmos nas lições revolucionárias dos seus afrescos. A pintura de Rivera representa para um artista de rua atual, um grande passo na direção de uma arte capaz de condensar as lutas sociais e as características culturais dos povos oprimidos. Olhemos com atenção para a magnitude que exala da arte deste que é o mais importante pintor mexicano do século passado.

                                                                                            Os Independentes  

Górki é fundamental:

Se enfocamos aqui a necessidade de uma literatura politizada e portanto comprometida com os setores explorados e marginalizados da sociedade, não resta dúvida que o escritor Máximo Górki é uma figura a ser prestigiada dentro da crítica literária revolucionária. Suas profundas raízes naturalistas conferem uma base de sustentação estética, utilizada segundo os interesses históricos do proletariado. Manejar com maestria a pena embasada no naturalismo, era em Górki um ato político progressista: se naturalistas do calibre de Zola escreveram sobre o proletariado, isto não resultava diretamente em um ponto de vista político revolucionário. No caso de Górki, a escolha naturalista reside num trampolim para se discutir os dramas sociais através de uma ótica combativa, afinada com as lutas do proletariado.
 Górki, apesar de militante, não foi um teórico marxista brilhante: excesso de passionalidade e de individualismo, levaram o escritor russo a generalizações e superficialismos(Lenin o criticou quando ele disse que o socialismo deveria participar de forma religiosa diante dos camponeses russos). Sua contribuição para a desastrosa estética do realismo socialista não envolveu uma adesão aos caminhos do totalitarismo stalinista(aliás o autor nem pode ser considerado um adepto do stalinismo). Uma leitura romântica do realismo realizada por Górki consiste em carência teórica e não na cumplicidade com o terror de Stálin. Para que possamos compreender as contribuições de Górki, estas estão no seu trabalho como romancista, contista e dramaturgo. Obras como A Mãe e Pequenos Burgueses , são fontes que abastecem a literatura de esquerda.

                                                                                      Geraldo Vermelhão

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

No caminho da arte libertária:

Se a arte pode questionar o conjunto das formas de opressão que regem o capitalismo, então não pode existir uma receita de bolo para isso. Cada artista ou coletivo precisa estudar, pesquisar estratégias expressivas e lições estéticas, mas nunca aprisionar suas práticas aos esquemas de sempre. Não é novidade pela novidade, mas o direito de experimentar formas e logo garantir a invenção. Posto isto, é preciso agora desmistificar posições teóricas pseudo anarquistas adotadas por alguns artistas: nas cabeças ocas aonde a preguiça teórica e a tagarelice fazem morada, existe uma sensibilidade que apesar de rebelde, não consegue amadurecer e tornar-se expressão cultural/política do proletariado. Os reflexos disso estão em manifestações artísticas que aparentemente são anárquicas, mas que na realidade esquivam-se dos problemas políticos e logo de uma ética libertária.
 Quando algum artista deseja comunicar a opressão, ele apresenta a possibilidade histórica de uma outra realidade: seja ele anarquista ou comunista(e o diálogo entre ambos precisa existir!), sua arte é a negação da ordem capitalista. Trata-se assim da negação de algo que existe, e não a negação de tudo e de todos, como se não tivéssemos algo melhor para fazer: destruição pela destruição além de ser fácil, é mesquinho perante as tarefas libertárias que a arte pode realizar. Anarquia é um projeto político, e portanto sua chave traduzida enquanto gesto simbólico na arte não permite vaidades e palavras vazias, mas a oposição frente a tudo que ameaça a liberdade humana. Resumindo: se alguém deseja ser um artista libertário, procure saber antes o que significa anarquismo do ponto de vista político.

                                                                                          Marta Dinamite 
 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O artista combativo ganha espaço

O sentido convencional, institucional de arte, está se modificando cada vez mais. Não é uma mudança apenas estética, mas de um modo geral política: vários artistas estão observando que a conversa fiada em torno do " gênio individual ", do sucesso e dos paparicos dos meios burgueses, são sintomas decadentes que não condizem com o papel contestador que a arte apresenta na sociedade contemporânea.
 Agindo em coletivos ou individualmente, é a figura do artista combativo, militante que está tomando o espaço público e os espaços consagrados. Como pode ser observado na mais recente edição da Bienal, a política e as tensões sociais do mundo atual são o que inquietam o artista. Do ponto de vista filosófico isto deve proporcionar mudanças: reflexões pós-modernas, como a deleuzena  por exemplo, são insuficientes para explicar as novas formas de engajamento expressas em vídeos, performances, afrescos, grafites, etc.Tudo indica que o bom e velho marxismo será útil para as novas pesquisas estéticas.


                                                                                              Os Independentes

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O jazz nos salva da alienação:

O capitalismo nos deixa todos muito ferrados: roubados, pregados, abatidos, com a vida evaporando nas jornadas de trabalho. Como repor a imagem perdida que o capital levou embora? Sim, a indústria cultural tem seus espetáculos emporcalhados, que só servem para reforçar o sistema quando estamos " descansando ". Quando penso num tipo de música, que possa combater o estado de alienação em que vivemos, penso no jazz.
 Tem gente ignorante que concebe o jazz enquanto coisa elitista. Bobagem! O jazz é expressão de um estado de liberdade num mundo aonde a liberdade não existe. Quer dizer, quando colocamos um jazz pra tocar, é como se o som fosse convertido em algo vivo, improvisado, solto, sensual, como a vida. Se nos deixarmos levar pela música do jazz, então não tem sentido em querer competir ou acumular riquezas. A música em si, enquanto coisa livre e apaixonante, nos leva a um tipo de existência social que faz pouco caso das exigências capitalistas. Sendo o jazz a música que expressa o melhor da cultura afro norte americana, fica claro porque este gênero musical causou tanto furor: no coração imperialista dos EUA,  a burguesia enquanto classe que se caracteriza dentre outras coisas pelo racismo, não conteve o jazz, um som que faz o proletariado repor sua imagem através de uma cultura rebelde. É claro que os nazistas odiavam o jazz: não existe hierarquia, racismo, homofobia, machismo, e outros absurdos, quando descobrimos que corpo e música acabam por negar o status quo. Jazz é música fundamental para nossa emancipação política. Foi assim por exemplo nos anos quarenta e cinquenta. Acho que de certa forma, ainda pode ser assim.

                                                                                                Tupinik 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Literatura regionalista contra o gosto reacionário da " nova direita "

Sinto-me profundamente enojado diante das manifestações políticas recentemente organizadas pela chamada " nova direita ". Na verdade, é a velha direita de sempre, com seus preconceitos, sua moral conservadora, seu individualismo grotesco e sua aversão pelos trabalhadores brasileiros. Não enfoco aqui o debate político entre os que são a favor ou contra o governo. Minha intenção, igualmente política, passa pelo terreno estético: o gosto colonizado e as práticas culturais da pequena burguesia(de onde provém esta nova onda direitista), especificamente na região sudeste, não cessam de revelar o desprezo por aquilo que é popular e empenha-se(enquanto obra literária, plástica, cinematográfica, etc) na denúncia das péssimas condições de vida de boa parte do povo brasileiro. Muito especialmente a miséria econômica presente nos estados no nordeste, precisa ser parte integrante de uma literatura corajosa, como aquela do Romance de 30.
 Para o escritor da atualidade, seja qual for a região do Brasil que ele habite,  existe o imperativo ético de criar pela ficção, narrativas que correspondam aos níveis concretos de vida de homens e mulheres assolados pelo abandono, pela precariedade presente em várias regiões do nordeste; ou seja situações que flagram historicamente o deslocamento das principais atividades econômicas do Brasil para a região sudeste.É a imagem do trabalhador em luta que precisa ser desenvolvida na atual produção literária brasileira. A existência progressista dos escritores periféricos da atualidade, que dão voz aos problemas enfrentados pela classe operária em cidades como São Paulo, é um fato importantíssimo que será decisivo para uma ofensiva cultural proletária. Afim de fortalecer tal ofensiva, recomendo que se estude a literatura regionalista dos anos trinta. Autores como Jorge Amado, são da maior importância para refletirmos sobre uma literatura engajada e que ao mesmo tempo possui uma tremenda força popular. Romances como Cacau(1933), Suor(1934) e Jubiabá(1935), todos de Jorge Amado, contribuem para uma literatura que prioriza a luta de classes no Brasil, com a fisionomia e as características culturais do trabalhador brasileiro(no caso da literatura de Jorge, dos trabalhadores da Bahia).
 Sei perfeitamente que os meus amigos trotskistas, devem estar escandalizados por este elogio a uma concepção artística que contrasta com suas convicções estéticas e políticas. Mas, sinceramente: não faço qualquer apologia do realismo socialista. O que defendo, o que considero urgente diante do atual momento político, é a existência de uma literatura que a exemplo de Jorge Amado e outros(Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, etc), deu voz ao povo pobre do nordeste, tão difamado pela língua esnobe da " nova direita ".  Colocar a literatura ou qualquer outra forma de arte, para carregar as imagens de um povo faminto, faz com que a burguesia e seus lacaios de classe média, fiquem automaticamente contra: foi assim com os romances da Literatura dos anos de 1930, foi assim com os filmes do Cinema Novo, durante os anos de 1960. Vamos enfrentar o gosto reacionário da " nova direita " com uma arte voltada para o proletariado brasileiro.


                                                                                         José Ferroso 
 

sábado, 1 de novembro de 2014

Cinema proletário alemão:

Houve um tempo em que o cinema era parte essencial da luta operária: na Alemanha, antes que o repugnante Hitler e sua escória nazista chegassem ao poder e acabassem com o trabalho de militância política(e cultural!) da esquerda, observamos uma intensa produção artística de agitação e propaganda. Afim de que o cinema retome cada vez mais os seus laços políticos com o proletariado, insistimos em estudar e debater todo este legado cinematográfico. O filme Kuhle Wampe(1932), que exibiremos nesta noite de sábado, é um documento de luta. Aqui o cinema é instrumento de educação política. Panfletário mas não manipulador, politizado mas sem abrir mão da invenção e da liberdade artística, este longa merece ser visto e revisto por quem usa óculos com lentes vermelhas. 
 Sob o comando de ninguém menos que Bertolt Brecht e Ernst Ottwalt, Kuhle Wampe narra os dramas econômicos de uma família proletária alemã em plena depressão da década de trinta. Estabelecendo a denúncia social , o que assistimos no filme é a o proletariado alemão enquanto protagonista de um importante empenho político. Em um grande acampamento, trabalhadores precisam reforçar seus laços de solidariedade: esta necessidade política é fortalecida por todo um trabalho de militância cultural. Cantando, fazendo teatro e organizando várias outras iniciativas, como atividades esportivas, o proletariado alemão registra através deste longa, a criação de uma cultura de combate. No plano do próprio filme, estes esforços geram frutos: quando a crise econômica é debatida num trem(chega-se a discutir sobre a queima das sacas de café no Brasil), operários afirmam que seus interesses políticos não são os mesmos da classe dominante. 

                                              
                                                                                                   Lenito

FILME: Kuhle Wampe

ANO: 1932

DIREAÇÃO/ROTEIRO: Bertolt Brecht e Ernst Ottwalt 

LOCAL DE EXIBIÇÃO: Museu da Imagem e do Som de Campinas

DIA: 1/11

HORÁRIO: 19:30  

Os artistas e a militância comunista:

Quando um poeta ou um pintor decidem tomar parte em uma organização política de esquerda, é natural que isto influencie (diretamente ou indiretamente) o seu trabalho. Mas este raio de influência, não pode gerar a confusão teórica que submete o processo criativo espontâneo a uma atividade racionalista, que destrói a natureza libertária da arte(insisto mais uma vez nesta questão). Chega a ser compreensível quando um artista militante aniquila a pesquisa estética em detrimento de um programa partidário: vivemos numa sociedade na qual a classe dominante encara o engajamento artístico enquanto " crime cultural ", sendo o artista que toma partido nas lutas sociais alvo de marginalização. Se a burguesia abomina as necessárias(e progressistas) relações da arte com a política, para o militante de esquerda deve-se realizar uma arte politizada. Porém, se um artista apresenta-se como revolucionário, ele precisa compreender claramente a dimensão revolucionária da arte e não confundi-la com castrações partidárias.
 Lembremo-nos aqui do embate que Pierre Naville colocou para o movimento surrealista na França dos anos vinte. Naville, membro do grupo surrealista e um dos fundadores da Oposição de Esquerda em território francês, afirmava em seu livreto A Revolução e os Intelectuais, redigido entre 1925-26, que o surrealismo deveria assumir uma posição política " definida ": ou os surrealistas insistem na revolução do espírito e na sua natureza anárquica ou optam pelo proletariado e consequentemente pela disciplina política do marxismo. Mas por que considerar uma dimensão e descartar a outra? Não seriam elas, no terreno cultural, complementares na luta contra a sociedade burguesa? Era exatamente isso que André Breton pensava. Breton e outros surrealistas, que já eram próximos das ideias comunistas, concordaram em parte com os argumentos de Naville, deixando claro que o movimento surrealista diante de sua adesão ao comunismo, não poderia abrir mão das especificidades do seu programa. Este debate somado a uma série de iniciativas políticas dos surrealistas, acarretaram em cisões no movimento (Naville por exemplo, afastou-se do surrealismo). Breton não cessaria de defender que o surrealismo trabalha pela revolução socialista, mas pelos seus próprios meios: as sondagens do inconsciente e as pesquisas expressivas contribuem significativamente para dinamitar a ordem burguesa.
 Este debate dos surrealistas ocorrido no século passado, é um exemplo histórico útil para o jovem artista tomado pela ética revolucionária do comunismo hoje. Se ele deseja escrever sobre as paisagens de um sonho ou sobre a miséria dos trabalhadores(e ambos os temas permitem uma abordagem revolucionária na obra de arte), ele deve faze-lo com liberdade total, sem a interferência de um partido político. Ao optar pela classe trabalhadora, este artista não precisa abandonar suas inquietações pessoais, mas compreender que estas últimas estão pela sua lógica interna, a serviço da revolução. 


                                                                               Afonso Machado