quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A atitude " beat " faz bem para o artista de esquerda:

Nada mais chato do que um militante comunista que não sabe estalar os dedos. Na verdade, o comunista precisa estar atento a todo complexo repressivo que compõe a sociedade burguesa: a luta contra os interesses capitalistas que atinge o cerne do problema social, precisa ser acrescida de uma visão libertadora da personalidade, da expressão e da sexualidade. Ao mesmo tempo em que o marxismo nos fornece uma insuperável análise da História, outros importantes ingredientes contemporâneos nos ajudam a experimentar formas de comportamento que não contradizem mas ajudam na conduta revolucionária. Este é o caso da Beat Generation.
 Não entendo o motivo de separarem rigorosamente a militância comunista das manifestações contraculturais. Diferenças filosóficas existem, é claro: sabemos que não é possível transformar a cultura sem modificar as bases materiais que a sustentam. Portanto seria um equivoco político supor que simplesmente " cair fora " da cultura dominante, resolva o problema. Este foi o erro dos beats, que viviam de caronas, improvisando a vida, confundindo-se com lupens(embora muitos beats fossem de classe média na origem) e se autodestruindo na maioria das vezes. Feitas estas reservas sobre as características políticas idealistas dos beats (e das posteriores formas de contracultura), não podemos deixar de levar em conta o alcance libertário que sua literatura e sua arte em geral possuem. Infelizmente, raríssimas vezes a esquerda compreendeu a importância da contracultura. Nos anos 50, a revista literária norte americana Partisan Review, um importante veículo marxista independente, desceu a lenha nos beats acusando sua literatura de romântica e calcada no niilismo boêmio. Mas como é que não perceberam que Ginsberg, Kerouac e companhia inauguravam uma nova literatura, uma nova linguagem, uma nova atitude de contestação perante a classe dominante? Este tipo de juízo moralista é comum entre vários comunistas. Ao invés de debater o assunto, muitas organizações de esquerda preferem simplesmente rotular(para desqualificar) aquilo que foge do seu controle burocrático.   
 Um músico, um poeta ou um pintor que fazem parte da oposição artística contra a sociedade capitalista, tem muito a ganhar com a criatividade beat: sensualidade, protesto, liberações dionisíacas, fluxos do inconsciente, incorporação da fala das ruas, etc. Se em 1968 encontramos algumas exceções que revelam o diálogo entre a esquerda e a contracultura,  hoje mais do que antes necessitamos deste tipo de diálogo: referências políticas e culturais altamente conservadoras, andam bloqueando nos jovens a sua capacidade natural de contestar a ordem estabelecida. É preciso abrir os olhos da rapaziada. O que precisamos entender hoje é que marchar e dançar podem ser uma única e mesma coisa para os militantes de esquerda.

                                                                                                      Tupinik  

Nenhum comentário:

Postar um comentário