segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O cinema político precisa se comunicar com os trabalhadores:

Quando um público não familiarizado com discussões estéticas, depara-se com filmes que fogem do esquematismo da indústria cultural, é comum que alguns espectadores caiam no sono. É culpa do público ou é o cineasta que não consegue se comunicar com a massa? Claro, o paternalismo é sempre terrível, sobretudo em arte. A liberdade do cineasta é indiscutível, não cabendo nenhum tipo de restrição quanto ao seu processo criativo. Entretanto, o problema permanece: como sair dos guetos cinematográficos, do sofisticado oásis cult,  e atingir o grande público, que vem sendo amamentado a vida inteira pelo lixo do cinema comercial? Um cineasta sem perspectiva ideológica combativa, pode ignorar este problema. Já o cineasta engajado não.
O filme não pode ser uma mera abstração, mas um produto cultural capaz de fazer o espectador reconhecer(ainda que pela ficção, seja ela ambientada no século XVI ou no século XXI) aspectos essenciais da sua realidade. A reflexão social que surge a partir do filme e apresenta novas informações(e novas sensações), torna-se expressão cultural de um povo quando este entende o cinema enquanto conhecimento prazeroso. Não se trata de apelar unicamente para os sentidos de quem assiste, mas compreender que a problematização do real no filme requer uma dinâmica estética compatível com a realidade cultural e política do espectador. Estaria eu defendendo a simplificação do filme, que poderia assim confluir para o plano do folhetim ou do quadrinho? Se o folhetim ficou no século XIX, a linguagem dos quadrinhos é moderna e ágil  como o próprio cinema. Poderíamos elencar ouros gêneros modernos contemporâneos do cinema. Mas o objetivo aqui é o seguinte: radicalidade estética e política são compatíveis com diversão e a própria noção de espetáculo popular.
  Seria artisticamente ridículo utilizar a linguagem hollywoodiana para inserir no filme uma análise marxista. É uma baita contradição de termos. Entretanto, o velho Brecht já afirmava que o caráter político revolucionário não exclui formas populares, de diversão, na composição da obra de arte. Estejamos atentos a isto se quisermos que o público acompanhe o debate cinematográfico.

                   
                                                                              Lúcia Gravas 

Nenhum comentário:

Postar um comentário