Para os leitores que são militantes de esquerda, ou pelo menos familiarizados com o pensamento marxista, afirmar que este último não tem absolutamente nada a ver com a estética do realismo socialista, é chover no molhado. Entretanto, devemos hoje estar atentos com o fato da desconstrução do pensamento marxista alimentar calúnias, associando as ideias de Marx e Engels com o zdanovismo. A verdade é que uma nova polarização ideológica tem impulsionado difamações: intelectuais anticomunistas estabelecem afirmações caluniosas, colocando Lenin no mesmo pé de Hitler. Tomando os erros políticos do stalinismo e do maoismo enquanto sinônimos de materialismo dialético, estes intelectuais, geralmente muito bem pagos, procuram atacar as ideias socialistas, inclusive no terreno da arte. Não é de se espantar que estudantes e jovens artistas acabem revelando certa antipatia pelo marxismo: a visão caricata e distorcida que toma o zdanovismo enquanto " arte de esquerda ", só pode gerar repulsa. Em contrapartida devemos esclarecer a juventude que isto é exatamente o oposto da maneira como o marxismo entende a questão da arte.
Colocar em debate a existência ou não de uma estética marxista, é algo que hoje não inclui mais a propaganda ideológica em torno do " herói coletivo do trabalho ". O realismo socialista enquanto concepção de uma arte que não é criada mas fabricada para atender ao culto direcionado a Stálin, não guarda semelhanças com as reflexões marxistas empenhadas em compreender o papel político da arte para os trabalhadores. Enquanto fator superestrutural, a arte não é reflexo passivo e tão pouco ferramenta submetida aos interesses burocráticos de algum centro de poder político. Para ser revolucionária e portanto participar ativamente da vida política, a arte deve compreender um conjunto de expressões que se opõe ao sistema capitalista, lutando simbolicamente contra um modo de vida estabelecido pela classe dominante. Para o marxismo a arte não é propaganda ideológica, mas uma arma cultural que influi sobre a maneira como os trabalhadores sentem e interpretam a realidade.
O realismo socialista teorizado por Gorki e Zdanov na ex União Soviética, comprometeu por muito tempo o parecer que os comunistas tinham em relação aos problemas artísticos. Tirando algumas exceções como Leon Trotski, Victor Serge, André Breton, Georg Lukács, Walter Benjamin e Bertolt Brecht, muitos intelectuais e artistas de esquerda caíram na ladainha stalinista, adotando o realismo socialista. Ainda que estes citados autores não entendam a arte da mesma maneira, o fato é que o pensamento marxista já deu(através destes autores e de muitos outros) demonstrações históricas de crítica e superação das baboseiras zdanovistas.
Se o realismo socialista existe hoje enquanto peça de museu ou estética presente indiretamente em algumas manifestações artísticas e publicitárias, devemos com toda energia combater a sua associação com o pensamento marxista. É preciso em defesa do próprio marxismo, rebater os ataques impróprios cometidos por pessoas cujo papel intelectual mercenário, é defender a arte enquanto mercadoria a serviço da alienação social.
Afonso Machado
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