quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eros, poesia e luta de classes:

O amplo universo de imagens que povoa a imaginação do poeta maldito, impulsiona o conflito com a moral estabelecida. Enquanto sublimação, a literatura não apenas desvia a energia sexual(que do ponto de vista psicanalítico é a raiz de toda produção cultural). A criação literária também amplia o desejo, fazendo do verbo extensão direta da sexualidade. Pois bem, haveria razão para separar sob o ponto de vista político esta evidência poética da luta material, econômica dos trabalhadores? Filósofos reacionários tentam separar as questões corpóreas e as suas relações com a estética, dos fatos econômicos. Nada poderia ser mais idealista: a existência material pré existente faz com que o corpo e a matéria, e ao mesmo tempo a sexualidade e a economia, determinem as formas culturais: a repressão dos instintos para o trabalho alienado não se separa de uma administração do desejo e da exploração. Penso que a energia erótica da poesia é um gesto de oposição política a isto.
 O poeta para ser revolucionário deve ter consciência acerca dos instintos e da divisão social do trabalho. A própria figura do poeta tende ao ataque, ao contraste com um princípio de realidade opressor do capitalismo. Portanto não é estranho para a ótica marxista incorporar ao seu exército cultural e político , o desregramento que caracteriza gente do calibre de Rimbaud e Lautréamont. O poeta é, como referiu-se Benjamin Péret, um revolucionário em si. Fora disso, o que existem são versinhos.


                                                                                               Os Independentes

Nenhum comentário:

Postar um comentário