terça-feira, 8 de abril de 2014

A madrinha do romance social:

O avanço estético e político que Rachel de Queiroz trouxe para a literatura brasileira, é uma questão que merece ser constantemente relembrada pelos militantes de esquerda. É claro que não precisamos(e não podemos) concordar com as posições políticas que a autora assumiu a partir do pós-guerra, pois elas não apagaram a incalculável contribuição que Rachel trouxe para o romance brasileiro. Fundamental aqui é a coragem intelectual da escritora durante a década de trinta, quando ela nos legou páginas que ajudam a desvendar as contradições sociais num país de miseráveis. 
 Rachel de Queiroz chega na vida literária brasileira quando, após a ressaca da festa libertária do modernismo dos anos vinte, exigia-se tomadas de posição sobre a realidade. Na busca pela crítica social, verdadeiro papel a ser desempenhado pelo moderno romance, Rachel mancha com violência realista o elitismo literário. O Quinze, João Miguel, Caminho de Pedras e As Três Marias, ainda são golpes secos e criativos sobre o atual romance brasileiro: enquanto tendências literárias pequeno burguesas da atualidade preocupam-se em narrar o nada vezes nada de suas tristes existências individuais(por exemplo em tramas policiais americanizadas) o tipo de romance regionalista escrito por Rachel (e outros autores como Graciliano Ramos) dentro do fenômeno da chamada Literatura de 30, permanece como sendo o que tem de mais quente nas letras nacionais: a miséria social ( a ser denunciada com brutalidade na narrativa e com violência estilística), ainda é um fato que contradiz a morna vidinha literária brasileira, dividida entre idas á livrarias de shopping e debates enfadonhos nas universidades. A questão é a prioridade estabelecida pelo escritor, o que ele pode comunicar com o romance. Tomando como exemplo O Quinze, apesar dos problemas da terra e os dramas nordestinos estarem em uma outra conjuntura histórica(a questão da mecanização do campo, por exemplo), é perfeitamente possível olharmos hoje para os vários Chicos Bentos e suas famílias de retirantes, famintos, exaustos e perdendo filhos pelo caminho. 
 O romance social estruturado nos anos trinta por Rachel de Queiroz, não abaixa a cabeça para a mediocridade , não se submetendo assim ás fórmulas prontas que a esquerda stalinista tentou impor para a literatura brasileira. O espírito independente de Rachel a levou(por pouco tempo) na direção do trotskismo( este fato deve-se especialmente á censura que o Partido Comunista colocou sobre o seu livro João Miguel, no início de trinta). Como não poderia deixar de ser, o caráter crítico da sua literatura trouxe também consequências repressivas por parte da direita: durante a era Vargas, Rachel passou por maus bocados. Além de  fichada pela polícia política de Pernambuco como comuna, Rachel teve exemplares dos seus livros queimados junto ás obras de outros autores que irritaram a ditadura varguista do Estado Novo em 1937.  
  Independentemente do itinerário ideológico da escritora no pós-guerra, agradecemos a ela pela força realista e ao mesmo tempo moderna dos seus primeiros romances: é um presta atenção nos literatos dos nossos dias.


                                                                                Os Independentes      

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