Não basta insistir no " sacrilégio " das relações revolucionárias entre arte e política. É preciso derrubar as visões consagradas em torno da obra de pintores que revelaram, na unidade de suas obras, a luta de classes. Se vários historiadores da arte e estetas em geral , enchem suas bocas enfadonhas para reprovar artistas e obras ligadas aos períodos históricos de ruptura política, precisamos denunciar o liberal assustado e o democrata trêmulo que se escondem atrás das telas de muitos museus.
Pensemos por exemplo no pintor francês Jaques Louis David. É comum observarmos em artigos e documentários de TV, críticos que difamam as ligações políticas de David com o jacobinismo. A crítica oficial não deixa de perpetuar concepções girondinas... É como se David tivesse " recuperado o juízo " quando se afastou das posições jacobinas e tornou-se o pintor oficial do Império napoleônico(!?). Uma paranoia termidoriana parece condicionar análises que valorizam apenas as consequências reacionárias da pintura de David: difama-se o jacobino e exalta-se o mestre retratista, reprime-se a energia plástica revolucionária e valoriza-se o rígido pintor acadêmico chato de galocha.
Como negar que foi exatamente durante o período jacobino, que David trouxe uma contribuição original para a História da pintura? Ele inseriu o traço e as cores dentro do processo revolucionário francês: se com a implementação da República durante a Convenção de 1792, a monarquia chegava ao fim, então a pintura só poderia profanar o gosto aristocrático com os assuntos da Revolução. Mas este David, pintor da Queda da Bastilha, não interessa para os críticos medrosos: David também foi um retratista entediante, que pelas limitações técnicas da estética neoclássica(cuja rigidez que reprime a imaginação não tardaria em saltar dos olhos para o colo da academia) fez pinturas inúteis, ora vangloriando a antiguidade romana ora retratando(com maestria, é verdade) personalidades da época. É este David que vive empoeirando corredores de museus e que ainda atende á indústria do turismo e serve ao gosto burguês.
Para nós interessa o David que compõe as cenas explosivas da Revolução,o David que fora amigo de Robespierre e Marat(este último imortalizado na tela A Morte de Marat, de1793). Não que para a pintura ser revolucionária ela tenha que automaticamente tratar de acontecimentos políticos revolucionários. Mas entre Napoleão subindo os Alpes(David publicitário do Império...)e cenas da antiguidade(David rígido e sem criatividade na sua tara idealista por Roma), ficamos com o David que pintou as imagens vibrantes da Revolução de 1789. É este David que assustou os girondinos e faz o historiador burguês de hoje, torcer o nariz.
Geraldo Vermelhão
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