quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quando o teatro eficaz não se parece com teatro:

A presença física do teatro, sempre reservou a esta arte um valor de subversão política como em nenhuma outra forma de expressão . Se alguém quiser entender quando o teatro realmente torna-se uma poderosa manifestação capaz de interferir na vida dos trabalhadores, é preciso sair um pouco do receituário estético e ir pra rua afim de experimentar possibilidades cênicas. Sim, pra rua! Não existe nenhuma novidade nisso, mas é um lance a ser explorado sistematicamente. Vejam só um exemplo: noite de sábado, um boteco com umas oito ou nove pessoas. Televisão ligada, risadas, assovios, peixe frito, pinga rolando solta e espuma de cerveja que não acaba mais. De repente, um cara entra no boteco, pede uma cerveja e começa a reclamar em voz alta, com o pessoal que bebe no balcão, que seu pai está há duas semanas na fila do hospital e não consegue ser atendido. Ele chora, desfere murros no balcão e diz que(apontando para a tv) no Brasil a única prioridade é o futebol. Um homem que estava sentado numa mesa se levanta, diz que aquilo não passa de drama, porque o governo é popular, morre quem não tem cacife econômico para um bom plano de saúde e o futebol é a glória nacional. Os dois começam a discutir, o tempo fecha, até que os clientes e o dono do bar começam a discutir o assunto durante horas.
Quando as portas de fecham os dois protagonistas da ação estão reunidos em uma praça avaliando o resultado da sua ação. Isto é teatro! Representação viva e capaz de estabelecer uma reflexão sobre a realidade! Os dois atores militam na esquerda e não estão afim de receber o titulo de " artistas profissionais". Poderíamos chamar isso de happening? Sim, mas é bem maior que mera importação do Living, até porque no Brasil, gente do CPC  fazia isso também, mas sem se preocupar com rótulo. Entendem? O teatro é bem maior do que uma casa de espetáculos.


                                                                                Lúcia Gravas

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