quinta-feira, 24 de abril de 2014

Teatro sem cinto de segurança(ou de castidade)

Quem pode levar a sério o teatrinho colonizado que infesta várias salas de espetáculo do país? Só mesmo a própria classe média colonizada, limpinha e fedendo a fast food. Mas quando examinamos de perto o teatro brasileiro que realmente colabora para a destruição dos valores burgueses, existe uma variedade de companhias que a trancos e barrancos faz do espetáculo uma experiência transformadora. Entretanto, alguns ainda insistem em conceber a natureza revolucionária do espetáculo unicamente no texto em detrimento da concepção teatral. Esta é uma tara até certo ponto perdoável, já que comunicar os objetivos do socialismo em cenas é um belo e necessário caminho. Mas existe um outro caminho(que não chega a excluir necessariamente o texto de conteúdo político revolucionário), que se não for politizado ou pelo menos entendido em seu valor político transgressor, continuará a ser uma presa fácil para o apetite neutralizador da academia. Falo especificamente daquele tipo de teatro aonde corpo, luz, cenário e canto coexistem num impulso libertário: este pode ajudar á descolonizar a sensibilidade e contribuir seriamente para balançar a superestrutura(ou pelo menos arranha-la, mancha-la com estilo).
  Hoje em dia muitos atores e encenadores que sofrem de preguiça ideológica, adoram batucar, saltar e rolar pelo palco mas sem romper com a lógica burguesa, com a própria convenção teatral. Não tem o menor sentido bancar o moderno agindo como clássico! Todas as batalhas estéticas do modernismo que trouxeram liberdade formal, não se separam do confronto contra as regras do mundo civilizado. Pensemos mais uma vez na montagem da peça Bailado do Deus Morto, pelo Teatro da Experiência em 1933. O bando destemido de Flávio de Carvalho, fez um mix maravilhoso entre expressionismo e tragédia clássica, levantando em cena um grande voo psicanalítico: a origem animal dos mitos, do sagrado, os tabus da civilização ocidental... Toda uma transa teatral que ameaça o conforto psíquico amparado pelo conservadorismo religioso. Não deu outra: a burguesia paulistana ficou possessa, a censura caiu de pau e os tiras fecharam o Teatro da Experiência.  Percebem? A subversão da forma, na qual o espetáculo vem de um texto mas não se submetendo a ele(rompendo assim com as tradições cênicas de boa parte do teatro ocidental), é inseparável de uma subversão maior, de um gesto político mais profundo contra a classe dominante. Uma grande força erótica que cruza historicamente o Teatro da Experiência com o Teatro Oficina e outros grupos brasileiros, ataca com encantamento e violência as raízes burguesas em nós.
 Tá ai um teatro revolucionário que precisamos estimular cada vez mais entre a juventude que pratica a principal arte de Dionísio.


                                                                                  Tupinik    

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