domingo, 6 de abril de 2014

Quem tem medo de funk?

Uma amiga, professora de literatura na rede estadual de Campinas, me disse que para a maioria dos seus alunos o funk é o único gênero musical que presta. Funk " é da hora " e o resto não passaria de " coisa de rockerinho playboy ". Bem, este " resto " não se restringe propriamente ás derivações musicais do rock, mas abrange também uma série de outros gêneros da música popular. Esta situação revela um fato inquestionável: o funk é a expressão musical da juventude trabalhadora(pelo menos em boa parte da região sudeste), nesta década. Sim, muitos curtem rock, outros se ligam em rap, pagode e sertanejo, mas o funk parece revelar no canto, no rebolado, nas roupas e nas atitudes o cotidiano de comunidades hostis á cultura que vem " de fora ".  Que desafio para os militantes de esquerda originários da classe média! Que angú musical já que os ouvidos de muitos companheiros, educados pelo " bom gosto revolucionário ", não tem nada a ver com a realidade cultural da classe operária. Nada de The Clash, nada de Chico Buarque. Para a garotada " o que presta é funk ".
  Se todo militante deve partir da realidade do proletariado, então o funk deve ser discutido não enquanto particularidade antropológica mas enquanto força musical dentro da luta de classes. O funk carioca, que chocou a pequena burguesia com o seu pancadão derivado do Miami Bass, possui componentes sociais que revelam o protesto através da música: falando dos dramas das comunidades exploradas pelo capital, a politização da música torna-se um processo praticamente " natural ". Claro, o funk tem lá as suas contradições: na questão da sexualidade, fundamental para o questionamento da moral burguesa, o funk não deixa de tratar o corpo da mulher como " coisa ", como mero objeto de entretenimento sexual(o que tem um lado alienante). Mas apesar de tudo, não podemos negar que o funk carioca desafia, em parte, o controle da cultura dominante sobre o corpo.
 Já o funk paulista também conhecido como funk ostentação, possui maiores obstáculos sob o ponto de vista ideológico. Não discuto aqui o valor musical do funk ostentação, mas a dificuldade em debater com músicos e ouvintes do gênero a necessidade de valores socialistas e libertários, distantes dos alienantes sonhos de consumo. Mas de qualquer maneira, creio que com a crise econômica ameaçando " a nova classe média ", revelando que ela é(e nunca deixou de ser) classe trabalhadora, o funk ostentação deverá passar por transformações ideológicas.
  Será que estes jovens devem apenas ouvir e se expressar através do funk? Não, mas da mesma maneira que eles precisam, por direito, obter uma ampla bagagem musical( de Mozart aos Ramones), e isto só poderá ser feito via Educação, esta juventude não pode ser subestimada em suas expressões artísticas. É a partir do funk também, que os companheiros procederão no caminho para a música libertária.


                                                                            Marta Dinamite 

Nenhum comentário:

Postar um comentário