quinta-feira, 17 de abril de 2014

Leonardo Padura e os rumos da literatura cubana:

 Aqui e acolá multiplicam-se no Brasil as discussões sobre a atual literatura cubana , como comprova o debate ocorrido no último dia 15 com o escritor Leonardo Padura, no Sesc Consolação em São Paulo. Entre o fim do ano passado e o presente momento, o autor cubano vem chamando a atenção da intelectualidade brasileira com o seu romance O Homem que Amava os Cachorros (o livro saiu pela editora Boitempo). Se em território brazuca  o livro recebeu críticas elogiosas(inclusive da própria presidente Dilma) e configura-se enquanto um " sucesso de vendas ", para nós militantes da cultura esta badalação toda praticamente não interessa. O que está em questão é como uma obra voltada para um assunto tabu em Cuba, sinaliza para mudanças quanto á política cultural daquele país.
  Leonardo Padura é inquestionavelmente um escritor ousado... Redigir um romance cuja trama central envolve Leon Trotski e o seu assassino Ramon Mercader, é para os padrões políticos de Cuba, no mínimo um fato inusitado. Ao importar o modelo político stalinista, o que atesta as características políticas de um Estado socialista deformado, o governo cubano sempre concebeu Trotski como nome maldito: a patrulha ideológica de Fidel reprimiu as concepções trotskistas na Ilha. Longe de nós desmerecer as conquistas históricas da Revolução de 1959: los barbudos enfrentaram e expulsaram o imperialismo norte americano e criaram um regime que modificou consideravelmente as condições de vida dos trabalhadores cubanos. Entretanto, a vida cultural(bem como a política) vem sendo dos anos sessenta até hoje atravessada por inúmeras contradições: enquanto artistas e escritores sofreram por não se submeterem ao ritmo da flauta dos modelos estéticos e morais importados da Ex-União Soviética(sendo que muitos deles foram encarcerados e mortos por suas opções ideológicas e até mesmo sexuais), ao mesmo tempo dá pra desconfiar até que ponto a doutrina do realismo socialista vingou em Cuba. Em 1964 por exemplo, o filme Soy Cuba, uma co-produção com a Ex- União Soviética, não agradou cineastas e críticos cubanos com sua estética viciada pelo zhdanovismo(na época eles estavam mais interessados no Cinema Novo de Glauber Rocha do que em realismo socialista). 
 Se a política cultural de Cuba cometia crimes ao proibir instrumentos musicais como o saxofone, por possuírem uma possível conotação " imperialista ", este odioso nacionalismo tipicamente stalinista desagradou durante décadas artistas e escritores, que mesmo apoiando a Revolução, nunca se submeteram a estas manifestações de imbecilidade política. Leonardo Padura é um exemplo disso: hoje os seus romances, em geral ligados ao gênero policial, ganham espaço na vida cultural cubana(o seu mencionado romance foi premiado). Estaria a vida cultural cubana se modificando?
  As pressões imperialistas ameaçam Cuba, é verdade. Mas a inserção de ideias revolucionárias via literatura, podem não enfraquecer mas alargar os horizontes estéticos e políticos dos trabalhadores cubanos. O internacionalismo trotskista(ainda pouco conhecido em Cuba), que possibilita o entendimento da literatura enquanto expressão revolucionária e não doutrina partidária, poderá ser útil para a atual cultura cubana. Mais importante em saber se Padura é ou não revolucionário(ele faz críticas mas também defende o governo revolucionário), é compreender os sintomas políticos que a sua literatura carrega.



                                                                                     Os Independentes 

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