A morte recente do escritor colombiano Gabriel Gárcia Márquez, nos coloca na trilha de uma reflexão aonde atravessamos os labirintos políticos da literatura latino americana. No Brasil muitos leitores conhecem mais da literatura francesa, inglesa e norte americana do que da obra de escritores latino americanos. Este comportamento mental, tipicamente colonizado, aponta no plano literário para a nossa fragilidade política enquanto continente explorado pelo imperialismo norte americano. Tá, no caso de Gabriel Márquez, mundialmente famoso, está claro o reconhecimento(mais do que merecido!) da sua obra; portanto não é de se estranhar que até a mosca mais besta de classe média já ouviu falar em romances como Cem Anos de Solidão(1967). Mas eu pergunto, está claro entre os leitores brasileiros a contribuição combativa de movimentos literários latino americanos, tais como o Realismo Mágico?
O movimento do Realismo Mágico, que deu sangue novo á literatura hispânica entre os anos sessenta e setenta(influenciando também escritores brasileiros, como Dias Gomes, por exemplo), ainda é um território interessantíssimo por onde brota nossa simbologia e nossos anseios ideológicos de libertação. Claro, nem tudo no Realismo Mágico foi revolucionário, mas ninguém pode negar que em Gabriel assim como no peruano Manuel Scorza e no argentino Julio Cortázar, este movimento corresponde a uma grande escola de enfrentamento ao autoritarismo dos regimes militares: os ditadores subiram pelas latrinas das burguesias apavoradas com o avanço político dos trabalhadores no continente. Este movimento desafia o pensamento colonizado ao optar por narrativas que negam o tempo linear, o racionalismo europeu. É uma experiência estética em que o fantástico nos faz refletir sobre os problemas sociais, sobre as contradições do mundo real.
É preciso que o ensino em literatura no Brasil articulado a uma crítica literária de esquerda, possa difundir e debater a obra de Gabriel Gárcia Márquez e outros autores da literatura hispânica.Gabriel Márquez, homem que fez da palavra escrita um gesto de sondagem cultural e política latino americana( ele estendeu a mão para Fidel Castro e saudou a Revolução cubana) nos oferece uma grande lição literária.
Lenito
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