quarta-feira, 18 de junho de 2014

A experiência do teatro de rua hoje:

Observando algumas apresentações de teatro de rua, realizadas neste ano no interior paulista, posso dizer que está ocorrendo uma fusão muito interessante entre formas populares de comunicação e protesto social. Por mais difícil que seja desviar a atenção de um trabalhador de toda trama publicitária da mídia capitalista, espaços públicos formam importantes redutos de experimentos cênicos: pelos centros da cidades, deteriorados e corroídos pela miséria, trabalhadores sempre possuem um olhar curioso diante de um grupo de atores; o que no fundo (talvez inconscientemente) represente uma exigência muito maior do que os apelos comerciais das lojas ao redor.
  Na boca de uma praça ou nas laterais da escadaria de uma igreja, em corredores que circulam busão, a sanfona toca alto e a pinga rola solta do botequim ao lado. Neste contexto, em que coletivos independentes de teatro tomam como palco, existem resultados interessantes:
1) o punhado de pessoas que aglomera-se em volta dos atores, geralmente não apresentam hostilidade e dependendo das circunstâncias participam com humor das ações(exceções encontram-se em alguns casos em que nota-se intolerância, geralmente proveniente de um discurso religioso de tipo conservador).
2) Figurino e maquiagem pedem uma encenação que foge do realismo. Observa-se como as cores de roupas espalhafatosas e o uso de máscaras e maquiagem de palhaço, triplicam a atenção do público. O mesmo pode-se dizer em relação a um visual mais dark, com maquiagem que remete ao expressionismo alemão.
3) Nada de frases longas, mas de falas sintéticas, próximas da agitprop e assimiladoras de jingles, palavras de ordem e canto popular.
4) Instrumentos musicais, como sanfona, pandeiro e cavaquinho são úteis para chamar atenção. A interrupção abrupta do som permite a inserção do elemento brechtiano, que quebra  o ilusionismo e geralmente arranca participações da plateia(palmas, assovios ou simplesmente o cochicho com o companheiro que está do lado).


                                                                                      Lenito 

Nenhum comentário:

Postar um comentário