Muita gente limita a força transgressora do cinema unicamente na mensagem política do filme. Não desconsidero este ponto de vista, do cinema enquanto expressão de ideias políticas revolucionárias, tão apaixonadamente defendido pelos meus amigos marxistas deste blog. Mas acredito que um filme sujo, livre e descolonizado(ainda que não seja propriamente " politizante ") pode ser tão ou mais ofensivo(e perigoso) que o cinema político de sempre. Este é o caso de parte do legado cinematográfico da Boca do Lixo, verdadeiro polo cultural por onde despontavam os filmes mais atrevidos da São Paulo dos anos sessenta e setenta. Estudos recentes mostram a importância de nos debruçarmos sobre o cinema brasileiro da Boca do Lixo. Uma boa oportunidade para o público da cidade de Campinas ter contato com a História desta cinematografia, será na próxima quarta feira(dia 4/06) no Museu da Imagem e do Som de Campinas. Ás 19h ocorre a noite de autógrafos do livro O Coringa do Cinema(saiu pela editora Giostri), do jornalista Matheus Trunk. O livro é uma biografia do diretor de fotografia Virgílio Roveda, nome fundamental do cinema brasileiro, que teve uma grande participação nas atividades cinematográficas da Boca do Lixo, ao lado de nomes como Zé do Caixão. Apelidado de Gaúcho, Vírgílio realizou mais de 60 filmes. O evento ainda contará com uma palestra do próprio Virgílio Roveda.
O cinema da Boca contrasta com a ótica burguesa no cinema.Proletários, prostitutas, marginais e outros tipos urbanos que o Estado capitalista sempre quis esconder, eram parte integrante de um cinema que transitava entre o popular e o experimental, sempre destoando do " bom gosto ". Este capítulo decisivo da cultura brasileira(a Boca do Lixo foi a gênese do chamado movimento do Cinema Marginal, de Sganzerla e Bressane) deve ser cada vez mais estudado por aqueles que desejam um cinema provocador. Para interferir na realidade social é preciso recusar a granfinagem do cinemão e vivenciar a marginalização contra a cultural oficial. O negócio é pesquisar o cinema da Boca do Lixo dos anos sessenta: mesmo que nem tudo que esteja ali seja revolucionário, pelo menos transgride(o que em matéria de arte não é pouca coisa).
Marta Dinamite
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