sexta-feira, 6 de junho de 2014

Em Glauber Rocha, o cinema popular possui uma estética revolucionária:

Neste próximo sábado(dia 7/06) exibiremos o filme O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro(1968), de Glauber Rocha. Esta sessão encerra o ciclo Revisão Crítica do Cinema Novo, fruto de mais uma importante parceria entre o nosso blog e o Museu da Imagem e do Som de Campinas. As reflexões de ordem estética e política realizadas durante a pesquisa e os debates no Mis,  foram tão significativas para a nossa militância, que já planejamos para o segundo semestre um novo ciclo de filmes no mesmo espaço. No que concerne  O Dragão, pode-se dizer que é um filme capaz de exprimir com exatidão uma das principais resoluções cinematográficas para os dias atuais: buscar o público popular ao mesmo tempo em que a invenção artística não recua um centímetro sequer.
 Perante as greves e outras demonstrações políticas de insatisfação popular que se alastram pelo país, o cinema não pode ser um elemento a mais no Panis et Cirscence(já basta a Copa do mundo!). A arte cinematográfica que o nosso tempo exige, tem a ver com filmes de cineastas como Glauber Rocha e não com as dúzias de filmes nacionais de hoje, que em boa parte estão cada vez mais colonizados e presos ao horizonte cavalar da classe média. Refletir sobre o significado do longa O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, envolve a crença de que os diversos elementos que compõem a nossa cultura popular podem harmonizar-se com a modernidade artística. " Preocupado com o cinema popular, escrevo e realizado o Dragão "; esta declaração de Glauber dada na época de lançamento do filme, desfaz  a figura do cineasta brasileiro enquanto alguém que realizasse filmes herméticos e distantes das formas populares de comunicação.  Ainda que no caso da cinematografia de Glauber Rocha exista uma grande variedade estética, nunca sendo um filme igual ao outro, ele foi um artista que a exemplo de Eisenstein, Maiakóvski e Brecht não dissociou o popular do experimental. O fato do filme ser colorido(aspecto este que se insere na estratégia do movimento do Cinema Novo em dialogar com um público mais amplo durante o final dos anos sessenta), não incorre sobre incoerência alguma. Segundo Glauber(...) " o cinema é uma arte que tem de comunicar-se , se isso não ocorre não faz sentido faze-lo "(...).
  O Dragão se passa na cidadezinha de Jardim das Piranhas. Ali o cangaceiro Coirana apresenta-se enquanto reencarnação de Lampião. Antonio das Mortes, personagem enigmático que quatro anos antes esteve no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, trava um duelo mítico com o cangaceiro, no qual a teatralidade amarrada ás tradições populares estabelece uma politização do folclore: alegoricamente, a rebelião popular representada pelo cangaço e o poder do Estado encarnado em Antonio das Mortes, determinam uma linguagem exuberante e de fácil entendimento. Antonio, que agora apresenta uma crise de consciência diante do seu oficio de " matador de cangaceiro ", é parte de um painel em que estão presentes outros personagens como um professor desiludido, um delegado ambicioso, um coronel delirante e megalomaníaco e uma fascinante mulher solitária. Sem preocupações esteticistas e ao mesmo tempo atento ao filme enquanto experimento que foge da linguagem comercial, O Dragão, ao abordar mitos populares do nordeste(que povoaram a infância do cineasta ), os utiliza segundo a ótica da luta de classes. 
 Entre o western e o cordel, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro encontra na cultura popular as forças políticas que impulsionam a luta contra a classe dominante. Na estética de Glauber São Jorge, o cangaço, o folclore e a guerrilha são partes de um mesmo universo político que preza pela libertação do povo explorado.


                                                                            Afonso Machado 

FILME: O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro

DIREÇÃO: Glauber Rocha

ANO: 1968

LOCAL DE EXIBIÇÃO: Museu da Imagem e do Som de Campinas

QUANDO: Dia 7/06

HORÁRIO: 19:30
 

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