terça-feira, 24 de junho de 2014

As fragilidades da militância cultural colhem o isolamento político:

Observando os protestos contra a Copa do mundo, fica claro o isolamento de boa parte dos militantes comunistas e anarquistas. Sem adesão popular estas manifestações aos poucos tornam-se alvo de repressão e difamação. Bem, existem inúmeras razões de ordem política para explicar este quadro(que não é definitivo, pois muita água pode rolar debaixo desta ponte). Me parece que uma das razões fundamentais passa pela ausência de um trabalho sistemático na esfera da cultura. Talvez seja exatamente a consequência histórica de uma atenção muito relativa dada á formação intelectual do proletariado por parte da esquerda, que explique (em parte) este isolamento. É claro que não se pode deixar de constatar o avanço político entre correntes que anunciam uma alternativa dentro da esquerda brasileira. Mas insisto: sem a presença dos trabalhadores em manifestações é impossível avançar politicamente(da mesma maneira que não existe consciência política de classe sem uma produção cultural em que esta classe se reconheça).
  Se olharmos para o início da História do movimento operário brasileiro, é espantoso como em meio á repressão policial da época, realizava-se uma intenção produção artística/cultural cujo objetivo era a instrução popular. Sob a orientação do anarquismo rolavam as Veladas Operárias: entre sábado e domingo trabalhadores reuniam-se em associações operárias para assistir concertos musicais, peças teatrais, recitais de poesia, palestras, etc. Este tipo de experiência cultural aonde a arte é um fator de aglutinação e conscientização política tem sido pouco valorizada em nossos dias. Não desmereço o esforço de militantes que em partidos ou não realizam importantes atividades artísticas com trabalhadores(incluso a nossa pequena publicação). Mas acontece que o empobrecimento da experiência do trabalhador hoje, exprime o controle maior sobre o seu tempo livre: este é preenchido com as bestialidades da cultura de massa, que conseguem por exemplo mobilizar a sensibilidade através do nacionalismo futebolístico. Em contrapartida a esquerda tem feito bem pouco neste campo.
 Hoje, mais do que antes, a arte que expressa a contestação social e a formação de uma sensibilidade rebelde entre proletários, é uma necessidade das mais urgentes. Sem o foco sobre a questão cultural, continuaremos balançando bandeiras vermelhas e negras sem o protagonista essencial: o proletariado.

                                                                            Geraldo Vermelhão

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