Mais uma vez o Sr José Ferroso polemiza, atacando as tendências estéticas pós-modernas. Endossamos boa parte dos seus ponta pés no artigo Arte Operária contra os reacionários pós moderninhos, mas não compartilhamos da estreiteza da sua visão artística. Para que os nossos leitores não pensem que este periódico seja portador de uma visão empobrecida do marxismo, é preciso sustentar um ponto de vista em que a crítica revolucionária saiba identificar na experiência estética o que pode proporcionar a emancipação social. A " estética do umbigo " referida por Ferroso, é um fato resultante da penetração de autores que encantam uma juventude órfã de referencias culturais alinhadas ao marxismo. Mas se o individualismo de Nietzsche e seus cacoetes reacionários nas estéticas fragmentárias de pensadores como Deleuze, atraem jovens artistas, seria justo considerar os garotos como sendo " conservadores "? O fato da dimensão corpórea e suas implicações dionisíacas atraírem a ponto das preocupações políticas revolucionárias tornarem-se secundárias(e ausentes) em obras de arte, envolve dois erros básicos por parte da esquerda: 1) a incompetência para comunicar aos artistas o papel cultural do proletariado. 2) a subestimação da operação mágica contida na arte, que não possui relações místicas mas funda-se nos aspectos libertários do inconsciente. Como nos disse um camarada na semana passada: " Diante da caretice de vários comunistas, é natural que jovens artistas de classe média, sintam-se atraídos por pensadores pseudo-libertários ".
Nas relações entre infraestrutura e superestrutura não existe mecânica mas um caráter dialético. Com isto queremos dizer que na superestrutura, as forças revolucionárias que exprimem a necessidade de superação das contradições materiais, não limitam-se no campo cultural ao tema proletariado versus burguesia. Se a luta de classes é o eixo político que permitirá a passagem para o socialismo pelas mãos da classe operária, isto não quer dizer que a arte tenha que apenas representar trabalhadores mal encarados dando pauladas em burgueses. Isto também é importante: ninguém pode negar a urgência e a validade revolucionária de romances periféricos e prisionais ou de vídeos, peças teatrais, canções e pinturas de muros que representem a luta de classes e logo denunciem a exploração capitalista. Isto tudo é fundamental, mas por si só não basta. A magia que materializa nossos mais importantes impulsos eróticos, deve ser evocada no plano da arte: imagens de sonhos, sensações que desorientam o funcionalismo/o pragmatismo fundador da civilização burguesa, são componentes transgressores que não se separam do socialismo. A revolução exige que repensemos o corpo, o plano dos desejos. O que não podemos admitir é o irracionalismo, pois este não oferece um projeto para a coletividade. Um dos grandes empecilhos é que a preguiça política de muitos artistas que não conseguem sair do casulo(e portanto compreender que fazem parte da marcha da História), levam aos reinos superficiais da rebeldia individualista, que não ameaça o capitalismo exatamente por não compreende-lo na sua dinâmica econômica e política.
Sim, os pós moderninhos comportam-se como reacionários mesmo quando se acham revolucionários. Mas é aí que nós entramos: é preciso mostrar que as pesquisas estéticas corpóreas são manifestações mágicas que complementam a arte politizada produzida por trabalhadores.Vários destes jovens artistas que aspiram com sinceridade práticas libertárias, participam da luta política protestando, manifestando-se(contra a Copa do mundo, por exemplo). É preciso atrai-los para uma posição política/estética de fato revolucionária.
Os Independentes
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