domingo, 21 de setembro de 2014

Música: nacionalismo e internacionalismo

Uma falsa dicotomia condicionou a crítica musical de viés marxista no Brasil. A valorização das raízes de nossa música popular, culminaria em uma compreensão nacionalista dos fenômenos culturais; o que por sua vez estabelece uma suposta associação com o pensamento de esquerda. Do outro lado existiria " o estrangeiro ", a música importada que representaria necessariamente o gosto e os valores imperialistas, em em especial norte americanos. Difundir e analisar a música brasileira na perspectiva do marxismo, representa um ganho formidável na compreensão da cultura enquanto dimensão construida na sociedade de classes. Mas seria o marxismo sinonimo de nacionalismo nas artes? O materialismo dialético não guarda nenhuma relação com o nacionalismo: este é antes uma compreensão burguesa da política e da cultura, fundada sob o mito do Estado Nação durante o século XIX. Opondo-se a isso, a metodologia marxista ao observar o conjunto dos fenômenos sociais, baseia-se no internacionalismo: é o movimento combinado entre as esferas nacional e  internacional que possibilita a ação política revolucionária. Esta ação agrega um juízo e uma orientação estética que desconhece fronteiras culturais. Quer dizer, valorizar e defender os aspectos progressistas da arte nacional não implica em isolamento diante da música internacional.
 De fato, o imperialismo norte americano sufoca os espaços da música popular brasileira: somos obrigados a ouvir uma grande quantidade de lixo importado. Porém, é ignorância  supor que toda música americana seja necessariamente alienação: a música de protesto, ou simplesmente canções bem feitas(mesmo sem intenções políticas), não são patrimônios exclusivos do Brasil. Para que a crítica marxista possa se desenvolver é preciso não associa-la necessariamente a um nacionalismo esquerdista, cuja origem está no stalinismo cultural. Valorizar o samba em suas qualidades subversivas, não significa enquadra-lo na flauta zdanovista: aquele romantismo de baixo calão, no qual tudo que emana " do povo " é necessariamente "revolucionário". Se nem todas as manifestações musicais do proletariado rimam com socialismo, em contrapartida nem toda música que surge na classe média seria um produto alienante: a opção política de classe em sua forma artística, não é uma simples peça de encaixe nos limites culturais de uma classe. Samba, forró, bossa nova e rock em suas diferenças estéticas e de origem social, podem associar-se com um projeto revolucionário que ultrapassa o crivo de classe: estes podem ser partes de uma cultura revolucionária que não visa, como diria Trotski, ser expressão de uma classe mas sim de um projeto político que visa acabar com a própria sociedade de classes.  
  A deformação marxista trazida pelo stalinismo, trouxe grandes prejuízos para a cultura e a crítica musical. Tão isto é verdade que o contato de jovens rockeiros com a análise " marxista nacionalista " , os fazem pensar que para o comunismo samba é arte e rock é lixo. Este mal entendido precisa ser definitivamente superado.Seja no campo musical ou político, o marxismo não é nacionalista.  


                                                                                          Tupinik 

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