quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Poesia e Política:

Existe uma infinidade de poetas no Brasil de hoje. Muitos são ousados, outros açucarados e alguns picaretas. Do canto de rua ás rimas populares, das heranças concretistas e surrealistas, o fato é que existe uma salada de versos, já que a poesia não se move mais dentro de tendências estéticas definidas. Até aqui nenhuma novidade. Mas e quando o poeta se aventura pela política, e esta é uma tentação(e para muitos um dever participativo) diante das eleições que se aproximam, qual seria a resolução disso no plano do poema? 
 É desproporcional quando algum poeta tenta bancar o Castro Alves hoje: no audiovisual por exemplo, notamos uma capacidade de síntese imagética das contradições políticas maior do que o poema tradicional; tanto é que uma peça publicitária de um partido de esquerda, pode receber numa boa a influência do cinema soviético, e assim cumprir um importante valor comunicativo. Situação distinta é a do poeta, cujo alcance é menor em relação á cultura visual. Isto quer dizer que a poesia teria perdido a sua relevância enquanto elemento que atua na realidade política? De jeito nenhum, mas acontece que o potencial político do poema é de outra natureza: ele exige uma movimentação verbal que não se separa da atitude do poeta. Sendo assim aquele que declama ou circula seus versos pelo papel, pelo ar ou pelas telas, pode cumprir pelas palavras colocadas em liberdade, uma missão das mais progressistas: a negação da realidade estabelecida pelo poema que ultrapassa o racionalismo e a vida prática, revela ao outro não uma informação política objetiva, mas um caótico universo interior em que o coração mela com a cor do desejo a palidez das mesquinharias partidárias. Não nego que o poeta possa discorrer sobre a realidade política. Mas ele o faz a partir do inconsciente, do espaço mental de onde o político profissional raramente consegue chegar


                                                                           Marta Dinamite 
 

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