terça-feira, 16 de setembro de 2014

A construção coletiva e a estética do capital:

Á luz dos conflitos entre militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e a polícia na cidade de São Paulo, levanta-se um antigo problema urbano. Perante o espaço organizado de acordo com a propriedade privada, as contradições humanas enquanto produtos da exclusão social, apontam para a necessidade de uma transformação da vida urbana. As grandes cidades brasileiras precisam não apenas reinventar o espaço, mas distribuir e reestruturar o problema da habitação. Não sou arquiteto, mas mesmo não estando totalmente autorizado para tratar do assunto, percebo que esta é uma questão em que a prioridade humana/social impõem-se  contra a organização capitalista do espaço: esta é uma questão a um só tempo política, estética, econômica e ambiental.
 Para a cidade ser o espaço da harmonia, do encontro, a polis aonde ocorre a participação popular e as trocas culturais, devemos enfrentar os interesses comerciais. A cidade é hoje o espaço da especulação financeira, do poder midiático que através de discursos impositivos prolifera os seus signos. Tais signos fundados na cultura de massa, geram uma espécie de estetização reacionária da vida: mercadorias adquirem novas roupagens através de todo auxílio das modernas técnicas publicitárias. Homens e imagens comerciais se misturam em formas alienantes. Enquanto a miséria aumenta o capital financeiro perpassa a carne e os sentidos de uma população educada para o consumismo. Não é por acaso que a violência urbana e o individualismo propagado pelo sistema, instituem  uma vivência limitada no espaço; ao mesmo tempo a estética da dominação, que oculta os problemas sociais, não consegue conter as contradições que  explodem nas ruas. 
 Os movimentos sociais e as correntes políticas que atuam sobre estes problemas urbanos, não podem a meu ver, descartar a dimensão cultural, especificamente estética, que existe nesta questão: ao reivindicar moradia reivindica-se também a necessidade de uma outra arquitetura, de um espaço público que não expresse a alienação. Dos projetos de Tátlin e outros construtivistas russos até os debates situacionistas da conjuntura de 1968, encontramos importantes reflexões estéticas necessárias para o avanço político da questão. Uma nova cidade nascerá a partir dos esforços culturais e políticos na direção do socialismo.


                                                                                             Lenito 
 


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