segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Literatura Periférica e Literatura Proletária:

De uns quinze anos pra cá, não podemos deixar de constatar que o movimento literário mais importante do Brasil é a  literatura periférica. Classificada também como literatura marginal, numa apreensão distinta daquela utilizada nos anos setenta, este movimento renovou a estrutura do romance, do conto e do poema inserindo a expressão literária no mesmo caldo contestador da cultura hip hop, da arte de rua. A violência e a miséria enquanto elementos centrais do cotidiano das periferias do país, não geram o objeto literário de fora, mas sim de dentro das próprias comunidades: aqui o romancista ou o poeta é o morador que converte a linguagem e os símbolos periféricos em matéria literária. Trata-se de uma contribuição inestimável para a literatura brasileira, como nos mostram as obras de Ferréz, Sérgio Vaz, Allan da Rosa e de tantos outros escritores. O significado subversivo disso tudo é extraordinário, pois a literatura enquanto propriedade da classe dominante é redefinida pelo olhar, pela sensibilidade da classe oprimida. Entretanto, a condição da literatura periférica faz com que ela seja automaticamente literatura proletária?
 O avanço da literatura periférica é um fato cultural altamente positivo do ponto de vista do proletariado: nas escolas aumenta o interesse de muitos jovens pela palavra escrita, de modo que professores engajados, projetos envolvendo secretárias de cultura e os próprios escritores periféricos, se fazem presentes enquanto forças progressistas através de palestras, debates e saraus. Ou seja, a literatura periférica cumpre um papel muito importante na educação de jovens da classe trabalhadora. Mas para compreendermos a dimensão ideológica destes registros literários das periferias, não basta olharmos de onde e do que eles falam, mas como a consciência de classe se manifesta neles. Diga-se de passagem, que enquanto literatura esta produção não carece de justificativa: ela existe, é válida e fecunda do ponto de vista estético e social. Porém, o potencial político da literatura pode ser muito maior do que apenas denúncia ou protesto. 
 O texto literário produzido pela classe trabalhadora, não pode ser como querem culturalistas e muitos acadêmicos, expressões de uma outra galáxia cultural, que existe em função de " particularidades culturais ". Tão isto é conversa fiada que os escritores periféricos sabem que os problemas que brotam de seus textos são essencialmente econômicos e sociais. Portanto, o avanço político da literatura periférica depende da sua afirmação enquanto literatura proletária: expressão cultural de classe, produto literário que exprime a consciência dos trabalhadores em luta contra a classe dominante. Esta literatura, se quiser efetivamente contribuir com a juventude proletária, deve cada vez mais se politizar, revelando no plano específico da criação artística que as periferias existem porque existe a burguesia brasileira. Creio que o marxismo pode contribuir decisivamente para o desenvolvimento e o fortalecimento da literatura periférica.


                                                                                    Geraldo Vermelhão

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