domingo, 14 de setembro de 2014

O underground enquanto antítese:

A chamada cultura underground que encontra suas formas nos desdobramentos musicais do punk rock e nos princípios políticos de algumas ramificações anarquistas, é uma das características básicas de setores juvenis contrários á ordem capitalista. É comum encontramos nos centros das cidades, especialmente durante a noite, jovens que trajam roupas de coro, cabelos verdes ou com penteados moicanos, máscaras e camisetas que denunciam e hostilizam o fascismo. Se é comum observarmos um tipo de jornalismo cultural reacionário no qual o underground seria encarado apenas enquanto uma passagem para o mainstream, este tipo de argumento é derrubado por bandas e artistas que fazem do underground uma interessante oposição á indústria cultural. No lastro das manifestações de rua do ano passado, esta simbologia underground é uma das coisas mais importantes perante as tentativas de homogeneização da vida cultural e de controle político. Ninguém duvide que esta garotada que se expressa de forma agressiva na dança, no visual e na música  seja opositora sincera da sociedade estabelecida. Porém, devemos refletir(com o intuito de colaborar com estas manifestações artísticas) sobre os seus limites políticos.
  A produção cultural underground funciona enquanto negação da cultura dominante. Seus participantes quando orientados por correntes libertárias, opõem-se com energia contra o racismo, o machismo, a homofobia e a marginalização da juventude periférica.  Qual o espaço cultural ocupado por estes rebeldes? Entre shows de rock, reuniões, protestos e conflitos com fascistas, " os membros " do undergound batalham por cenas independentes. Paralelamente, a cultura consumida e os hábitos da classe trabalhadora brasileira continuam os mesmos. Podemos pensar este problema através de exemplos corriqueiros. Quando rola um show de rock underground, nas proximidades do local encontramos operários num boteco, completamente indiferentes quanto ao barulho dos " garotos "; expressando preocupações e interpretando a realidade de maneira distinta do underground. Seria isto simplesmente um  abismo cultural, fruto da diversidade? Em uma madrugada qualquer, punks e fascistas se enfrentam numa briga de rua. No mesmo horário boa parte do proletariado está dormindo para ser explorado na manhã seguinte. Aonde estaria o problema de tudo isso? Sem dúvida que esta não é uma questão estética: a música e as demais formas de expressão artística do chamado underground, são inquestionavelmente contestadoras; os marxistas deveriam prestar atenção nelas. Mas como ampliar o poder comunicativo destas manifestações? Será que esta é a vontade dos artistas do underground? Até que ponto o underground se conforma em ser apenas o outro lado da moeda? 
 É preciso superar uma mentalidade tribal que impede de olharmos a realidade através do critério de classe, o único que pode viabilizar mudanças políticas e culturais. Não se trata de opor-se apenas aos grupos conservadores, de chocar os papais e as mamães e de se preocupar com grupinhos fascistas(estes por hora, não interessam á burguesia como ocorrera nos anos vinte e trinta). É preciso alavancar as formas de oposição artística e cultural para que elas sejam parte da cultura dos trabalhadores. Não dá para nos contentarmos com a margem concedida pela classe dominante. Não dá para ficar no plano da antítese.


                                                                                                Tupinik 

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