quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A imagem que toca o real :

Referindo-nos sobre o papel da arte contemporânea, já defendemos em outra ocasião que a imagem precisa participar da realidade, no sentido dela ser parte integrante de um conjunto de ações transformadoras. No entanto, pessoas que adoram respostas evasivas, diriam que " a realidade não existe ", sendo a própria arte mero produto de uma apreensão individual da realidade. Neste sentido, quando olhamos na rua uma criança faminta, alguns poderiam em sua " maneira individual de perceber o real " alegar que aquilo é uma simples " escolha cultural dos pais " daquela criança. A negligência intelectual que serve aos interesses da classe dominante não para por aí, sendo que podemos nos valer de outros tantos exemplos: a imagem de um homem sendo torturado nos tempos da ditadura, exprime a repressão política ou simplesmente " o prazer de ser torturado "? Em nossa opinião este tipo complacência, de relativismo, acarreta em despolitização generalizada, sendo necessário combatermos todo este papo furado.
 A arte em si não é a realidade: ela é uma representação, a criação de uma espécie de realidade paralela, que guarda relações consciente ou inconscientes com uma determinada forma de organização social. Estas relações revelam a maneira como o artista olha, como ele participa da elaboração de um tipo de consciência a partir da experiência sensível. Se a realidade " não existe ", então os homens e as coisas estariam " soltos no espaço ", como peças que nunca encontram o todo, sendo a própria obra de uma arte um objeto que dispensa a presença do " outro ", já que a compreensão do real é tão unicamente " uma relação individual ". Se a individualidade existe é porque também somos tocados pelo " outro ", pelo que eles sente, experimenta e(como) vive. O esforço comunicativo da arte não é reflexo da realidade mas uma intervenção sobre ela: é a reivindicação de uma outra realidade, aquela do desejo e consequentemente do protesto contra um mundo que reprime e nega(pela exploração e pela alienação) o próprio homem. Felizmente os artistas mais avançados, inclusive aqueles que estão organizados em coletivos, sabem que a luta da arte é a luta por uma outra realidade.


                                                                                     Os Independentes 

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