Há uma semana o nosso companheiro de redação Lenito, disse que tinha grandes expectativas de encontrar na trigésima primeira edição da Bienal de Artes de São Paulo, artistas combativos, promotores de obras contestadoras. Lenito pode ficar descansado, pois tudo indica que esta edição da Bienal assinala um caráter provocador e de contestação política. Pelo que tem sido divulgado, o evento que abre para o público no próximo sábado, reúne artistas e coletivos comprometidos em expressar com liberdade total as grandes questões que convulsionam o Brasil e o mundo HOJE.
Religião, sexualidade, guerra, aborto, sistema carcerário brasileiro e o confronto de militantes com a polícia, são assuntos que recebem um tratamento artístico transgressor e fazem da arte do momento não um espelho, mas como diria Maiakóvski, um martelo contra o conservadorismo estético, político e moral. Mesmo antes do pavilhão ser aberto á população, polêmicas tomam conta desta que promete ser uma das edições mais emblemáticas da História da Bienal. Diante dos ataques do exército israelense na faixa de Gaza, mais da metade dos artistas que participam do evento redigiram um manifesto pedindo que a fundação da Bienal devolva o patrocínio que recebeu de Israel. Além desta dramática questão geopolítica surgir, outras polêmicas se materializam através de obras profundamente instigantes: num momento em que assistimos a situação desumana nas cadeias brasileiras(como aponta a revolta de presidiários em Cascavel) o artista Éder Oliveira pintou os rostos de detentos da região de Belém nas paredes da Bienal. Enquanto que os temas da exclusão e das injustiças sociais se fazem presentes, a questão religiosa também ganha força nesta edição da Bienal, seja com o polêmico filme " Inferno " da artista israelense Yael Bartana, seja com as ações do coletivo argentino Etcétera . Se a primeira simula um ataque ao templo de Salomão, pertencente á Igreja Evangélica em São Paulo, o pessoal do Etcétera pede em carta enviada ao Vaticano a abolição do inferno enquanto dimensão teológica. A questão sexual, de gênero para sermos mais exatos, também surge no trabalho de outros artistas: o aborto e a mudança de sexo envolvendo ícones bíblicos, dão o tom da ousadia(e do consequente debate).
Por fim, artistas das periferias da capital paulistana e militantes de movimentos sociais como o pessoal do coletivo Comboio, mostram que na arte dos nossos dias a questão da luta de classes é um fator decisivo. Aliás, o desenho de um manifestante enfrentando a polícia com um coquetel Molotov deixa claro que " arte pela arte " não faz(e nem nunca fez) o menor sentido de ser.
Os Independentes
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