Do abstracionismo, passando pela picaretagem Pop e chegando ao nada vezes nada de inúmeras instalações ou do olhar culturalista reacionário, a arte contemporânea " ousou " muito, chocou críticos burgueses, alimentou o mercado e raríssimas vezes se comunicou com o povo. Se uma obra de arte é responsável por " chocar ", isto é aparentemente positivo exatamente por fazer destemperar senhoras da alta sociedade. Mas por outro lado, o que choca vende, sendo as " virtudes comerciais " do escândalo algo muito esperado pelo mercado. Já que o capital não tem estética definida, ele se apropria de várias. Então, quais imagens tornam-se politicamente possíveis diante de tantos cacarecos e tanta porcaria visual? Sem querer fossilizar a forma, creio que o figurativismo é o que ainda pode tornar a pintura viva e revolucionária entre os trabalhadores: este é o público necessário e não especialistas ou artistas acadêmicos.
Di Cavalcanti, por exemplo, nunca abriu mão de retratar modernamente o povo brasileiro. Para um espectador proletário, que não quer fazer a sua sensibilidade se decompor junto ás picaretagens pós modernas, a pintura de Di e outros antigos modernistas, tem muito a dizer. Carnaval, pescadores, samba, violões, cenas noturnas em bairros populares e mulheres senuais possibilitam a identificação com o espectador. Acho isto muito mais relevante do que triângulos, quadrados, cabines, mutilações e objetos que se confundem com o que vemos em casa ou no supermercado.
Perante as eleições, a pintura popular e revolucionária pode pouco com as imagens sofisticadíssimas das propagandas. Entretanto, elas podem ser parte de um processo estético educativo para que os trabalhadores, fragmentados no capitalismo de serviços, tomem consciência de classe.
Lúcia Gravas
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